|
Somos mais do que um acidente da evolução. Somos maiores
do que o somatório de nossa parte biológica. Deus existe.
Ele é bom! Ele nos ama. E nos fez à sua imagem para partilharmos
de sua alegria. Ele assume um papel ativo em nossas vidas.
Enviou seu único filho para restaurar nossa dignidade
e nos conduzir de volta à sua casa.
I. Criados para a alegria
Somos mais do que um acidente da evolução.
Somos maiores do que o somatório de nossa parte
biológica. Deus existe. Ele é bom! Ele nos
ama. E nos fez à sua imagem para partilharmos de
sua alegria. Ele assume um papel ativo em nossas vidas.
Enviou seu único filho para restaurar nossa dignidade
e nos conduzir de volta à sua casa.
Um plano para a vida e o amor que nos sustenta
1. O ensinamento cristão sobre o matrimónio
provém do coração da nossa fé.
Por esta razão, podemos começar por uma
revisão básica da história da Igreja.
Nosso Deus não é inacessível e distante.
Cremos que Deus se revela a si próprio na pessoa
de Jesus Cristo. Jesus é a fonte de nossa esperança,
fé, amor e alegria que deve animar a vida da família
cristã. Ele é a razão que fundamenta
a sabedoria da fé cristã. Tudo o que é
oferecido nesta catequese provém do próprio
Jesus
2. Como disse recentemente o Papa Francisco, “prometer
um amor que dure para sempre é possível
quando se descobre um desígnio maior que os próprios
projetos, que nos sustenta e permite doar o futuro inteiro
à pessoa amada.” Contudo, vivemos em uma
época de um ceticismo mundano e arraigado a respeito
de qualquer “desígnio maior” ou experiência
mais elevada da existência humana. Para muitas pessoas,
a pessoa humana é algo um pouco mais do que um
acidente da evolução: átomos de carbono
com atitude. Em outras palavras, para muitos, não
há propósito maior algum do que quaisquer
significados que construamos para nós mesmos.
3. Em uma época de tecnologia sofisticada e de
riqueza material, este tipo de ponderação
sem Deus pode soar pertinente. Mas ao fim, trata-se de
uma visão muito limitada do que somos enquanto
mulheres e homens. Visão que prejudica a dignidade
humana e contribui para que as almas continuem famintas,
visto que esta visão não é verdadeira.
4. De fato, ansiamos por sentido na vida. Um anseio por
propósito é uma experiência humana
universal. Desta forma, os seres humanos sempre fizeram
perguntas básicas como: Quem sou eu? Por que estou
aqui? E, Como devo eu viver? A fé cristã
emergiu no antigo mundo intercultural de gregos, romanos,
hebreus e outras culturas do mediterrâneo. Era um
mundo no qual muitas respostas distintas às questões
básicas da vida lutavam por domínio.
5. Nossa situação atual é similar.
Assim como no mundo antigo, as culturas de hoje se justapõem
e se intercambiam. Assim como naquela época, as
filosofias de vida competem e oferecem visões distintas
do que torna boa a vida. Ao mesmo tempo, o sofrimento
e a pobreza também abundam, assim como o cinismo
– em algumas culturas – em contraponto a qualquer
religião ou filosofia que conclama a oferecer segurança
e verdade de forma ampla.
6. Vivemos uma época de confusão com tantas
respostas conflitantes. Muitas pessoas hoje procuram honestamente
por sentido, mas não sabem em quem confiar ou ao
que comprometer suas vidas.
7. Em meio às incertezas, os cristãos são
pessoas que confiam em Jesus Cristo. Apesar das ambiguidades
da história humana, o modo católico de vivenciar
a esperança e a alegria, o amor e o serviço,
se fundamenta no encontro com Jesus. Como nos fala São
João Paulo II em sua primeira encíclica:
a “revelação do amor e da misericórdia
tem na história do homem uma forma e um nome: chama-se
Jesus Cristo”. Tudo o mais provém disso.
Jesus Cristo é o fundamento da fé cristã.
Jesus nos revela Deus e o seu desígnio é
manifestado
8. Na Sagrada Escritura, Jesus pergunta aos seus discípulos:
“E vocês, quem dizem que eu sou?” (Mt
16, 1320). Ao longo de dois mil anos, a história
humana tem-se voltado para esta questão. Os cristãos
são pessoas que tendo encontrado Jesus de diversas
maneiras pelo testemunho dos santos e dos apóstolos,
por meio da Bíblia e dos sacramentos, na oração
e no serviço aos pobres, na adoração
e também por meio dos amigos e da família
– tornam-se capazes de confiar em Jesus e junto
a Pedro afirmarem: “Tu és o Messias, o Filho
do Deus vivo” (Mt 16, 16).
9.Entre tantas coisas que Ele fez na Terra, embora diante
do sofrimento pessoal, Jesus perseverou no amor. Ele foi
crucificado por mãos humanas e ainda assim ressuscitou
vitorioso sobre a morte. Uma vez que o próprio
Deus sofreu nesta intensidade, os cristãos creem
que Deus não permanece alheio à condição
humana. Não cremos em um deus excêntrico
ou em alguma deidade em competição com os
seres humanos. O Deus em quem confiamos nos quer ver florescer.
Graças a Jesus Cristo, os católicos possuem
a confiança no amor de Deus por nós. Assim
nos fala o Papa Francisco em sua primeira encíclica:
Ao homem que sofre, Deus não dá um raciocínio
que explique tudo, mas oferece a sua resposta sob a forma
duma presença que o acompanha, duma história
de bem que se une a cada história de sofrimento
para nela abrir uma brecha de luz. Em Cristo, o próprio
Deus quis partilhar connosco esta estrada e oferecer-nos
o seu olhar para nela vermos a luz. Cristo é aquele
que, tendo suportado a dor, Se tornou “autor e consumador
da fé” (Hb 12, 2).
10. Em certo sentido, toda a teologia cristã é
um tratado sobre o que significa dizer que Deus se fez
homem, morreu e ressuscitou. A presença de Deus
na carne humana de Jesus significa que o Criador transcendental
do mundo é também ao mesmo tempo nosso Pai:
imanente, afetuoso e íntimo. O Deus Uno e Trino
sempre permanecerá um mistério infinito,
e ainda assim, este mesmo Deus se tornou um certo homem
no tempo e no espaço definidos. Deus se fez tão
vulnerável quanto um bebé em uma manjedoura
ou um homem pregado numa cruz. Jesus ensinou, discursou,
riu e chorou. Sua morte e ressurreição significam
que embora seja Deus inefavelmente misterioso, e Ele não
é opaco. É por meio de Jesus que somos capazes
de falar com confiança sobre Deus e sua verdade
divina.
11. Jesus fala de si mesmo como Filho do Pai, e juntamente
com o Pai, envia Seu Espírito para estar com seu
povo. É d’Ele que aprendemos que a natureza
de Deus é uma eterna comunhão das três
pessoas divinas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Por meio do batismo em sua Igreja, Jesus convida a todos
a serem parte da aliança de Deus e da comunhão
divina. A história de Israel, e, ulteriormente
a da Igreja, é a história com significado
universal, pois esta é uma convocação
para vivermos como povo de Deus e participar da comunhão
divina.
Jesus revela nossa identidade humana e nosso destino
12. Jesus revela quem é Deus, o Deus que nos ama
e toma a iniciativa de nos alcançar. Contudo, Jesus
também revela o que significa ser humano. O Concílio
Vaticano II, ao se referir a Jesus como “Palavra”
de Deus, ensina: “Na realidade, o mistério
do homem só no mistério do Verbo encarnado
se esclarece verdadeiramente.” Em Jesus Cristo,
aprendemos a verdade sobre nós mesmos, o que não
poderíamos inventar e o que não conheceríamos
de outro modo. Como afirma a Bíblia: “a vossa
vida está escondida com Cristo em Deus.”
(Col 3,3). Os católicos creem que Deus ama o mundo
de forma muito intensa (cf. Jo 3,16), e, assim sendo,
não nos deixa à deriva, ao contrário,
Deus assume nossa carne para desvelar quem Ele é
e quem nós somos. Esclarece-nos o Concílio
Vaticano II: A razão mais sublime da dignidade
do homem consiste na sua vocação à
união com Deus. É desde o começo
da sua existência que o homem é convidado
a dialogar com Deus: pois, se existe, é só
porque, criado por Deus, por amor, é por Ele, por
amor, constantemente conservado. Como o Papa Bento XVI
enfatizou no último encontro mundial com as famílias,
em Milão, em 2012, “O amor é o que
faz da pessoa humana a autêntica imagem da Trindade,
imagem de Deus.”
13. A expressão “imagem de Deus” provém
do Livro do Génesis (cf. Gn 1, 2627, 5,1 e 9,6).
Esta afirmação sugere que cada pessoa singular
é preciosa com dignidade única e irredutível.
Apesar de ser possível abusar das pessoas ou usá-las,
não se pode apagar esta verdade a respeito da forma
como Deus nos criou. Nossa dignidade fundamental não
está contingente aos fracassos ou conquistas. A
bondade de Deus e o seu amor por nós é anterior
e muito mais relevante do que qualquer pecado humano.
A imagem de Deus permanece em nós, não importa
o que façamos para obscurecê-la. Termos sido
criados à imagem de Deus sugere que nossa verdadeira
realização e alegria residem em conhecer,
amar e servir uns aos outros, como Deus o faz.
14. Falar do homem e da mulher enquanto “imagem
de Deus” significa que não podemos falar
da humanidade sem referência a Deus. Se a natureza
de Deus consiste na comunhão trinitária
– Pai, Filho e Espírito Santo – e se
fomos feitos a esta imagem, então nossa natureza
deve ser interdependente. Para sermos uma pessoa, precisamos
de comunhão. “Ser pessoa à imagem
e semelhança de Deus comporta, pois, também
um existir em relação, em referência
ao outro ‘eu’.” Para que sejamos nós
mesmos, precisamos uns dos outros e precisamos de Deus.
Precisamos de alguém para amar e alguém
que nos ame. Para sermos aquilo para o que fomos criados,
devemos nos doar ao nosso próximo. “O ser
pessoa [...] não se pode alcançar ‘senão
por um dom sincero de si mesmo’. Modelo de tal interpretação
da pessoa é Deus mesmo como Trindade, como comunhão
de Pessoas. Dizer que o homem é criado à
imagem e semelhança deste Deus quer dizer também
que o homem é chamado a existir ‘para’
os outros, a tornar-se um dom.” Para salvar nossas
vidas precisamos perdê-las para Deus (cf. Mt 10,39;
16,25). Esta afirmativa teológica da pessoa humana
se torna projeto de toda a teologia moral, incluindo o
ensinamento católico sobre a família.
15. Podemos titubear com nossas fantasias e autossuficiência,
contudo, fomos feitos à imagem de Deus –
e se queremos viver como filhos e filhas de Deus, que
de fato o somos, então precisamos acolher o chamado
de Deus para amá-lo e para amar nosso próximo.
Da mesma forma que Jesus revelou a natureza de Deus por
meio de seu amor e sacrifício, também nós,
de maneira mais profunda, aceitamos nossa real humanidade
à medida que entramos em relações
de amor e serviço aos nossos irmãos e irmãs
e na adoração do Senhor.
16. Como o Vaticano II afirmou em sua reflexão
sobre a dignidade humana, muitos ateus acreditam que “apenas
a razão científica” pode nos fornecer
tudo o que precisamos saber sobre nós mesmos, sem
referência alguma a qualquer coisa para além
do mundo natural. Contudo, os católicos sustentam
que a teologia é essencial para a antropologia,
isto é, acreditamos que uma compreensão
de Deus e de seu propósito para a criação
é vital para qualquer perceção dos
seres humanos. Os católicos acreditam que a revelação
divina em Jesus nos devolve a nós mesmos, revela
quem somos e desvela-se, na amplitude do essencial, que
a Deus pertencemos. Mas do que quaisquer medos, ambições
ou questionamentos que tenhamos, é o amor de Deus
o fundamento para a nossa identidade. Assim nos ensinou
São João Paulo II logo ao início
de seu pontificado: “O homem que quiser compreender-se
a si mesmo profundamente — não apenas segundo
imediatos, parciais, não raro superficiais e até
mesmo só aparentes critérios e medidas do
próprio ser - deve, com a sua inquietude, incerteza
e também fraqueza e pecaminosidade, com a sua vida
e com a sua morte, aproximar-se de Cristo.”
17. Jesus ao ensinar sobre o matrimónio refere-se
ao plano e ao propósito de Deus na criação.
Ao ser questionado pelos fariseus sobre uma questão
a respeito do divórcio, em sua resposta ele lembra
que Deus criou os seres humanos, homem e mulher, e marido
e mulher se tornam uma só carne (cf. Mt 19, 312,
Mc 10, 212). De forma similar, quando o Apóstolo
Paulo escreve aos coríntios sobre a ética
sexual, ele os faz lembrar daquela união de uma
só carne entre o homem e a mulher na Criação
(cf. 1Cor 6, 16). Quando escreve aos Efésios (cf.
Ef 5, 32) sobre o tema do matrimónio, novamente
ele lhes diz que isto é um “profundo mistério”,
o qual se refere a Cristo e à Igreja. Ao escrever
à Igreja de Roma, discorre sobre a natureza e a
vontade de Deus revelada na Criação; fala
ainda sobre os muitos pecados – incluindo o de natureza
sexual – que se manifestam a partir de nosso afastamento
do conhecimento do Criador (Rm 1, 1832).
O amor é a missão da família
18. A este ponto já deveria estar claro por que
“O amor é a nossa Missão” é
o tema do Encontro Mundial das Famílias. Um dos
documentos papais mais importantes do século XXI
– Familiaris consortio, de São João
Paulo II – sintetizou como o ensinamento católico
sobre as naturezas, humana e divina, moldam as bases sobre
as quais deveríamos viver: Deus criou o homem à
sua imagem e semelhança: chamando-o à existência
por amor, chamou-o ao mesmo tempo ao amor. Deus é
amor e vive em si mesmo um mistério de comunhão
pessoal de amor. Criando-a à sua imagem e conservando-a
continuamente no ser, Deus inscreve na humanidade do homem
e da mulher a vocação, e, assim, a capacidade
e a responsabilidade do amor e da comunhão. O amor
é, portanto, a fundamental e originária
vocação do ser humano. O amor de Deus nunca
cessa de nos convocar. Não podemos desperdiçar
este convite. Fomos criados à imagem de Deus e,
apesar da realidade do pecado humano, a vocação
implícita à nossa criação
é indelével.
19. A visão católica sobre o matrimónio,
família e sexualidade pertencem a uma missão
mais ampla, a fim de se viver de um modo que torne o amor
de Deus visível e radiante. O vivenciar desta missão
torna o nosso dia-a-dia mais vivo com a alegria de Deus.
A pessoa humana como um todo – corpo e alma, nossa
masculinidade e feminilidade e tudo aquilo que disso deriva
– está implicada no convite de Deus. O subtema
deste Encontro Mundial das Famílias é “a
família plenamente viva”, e isso por uma
boa razão. A família encontra-se mais plenamente
viva quando abarca o convite divino para sermos os filhos
e filhas, vocação à qual fomos criados.
20. Nossa época encontra-se confusa e incerta.
Jesus Cristo é uma âncora de total confiança.
A dignidade humana jaz de forma segura em Jesus, o Deus
que se fez homem. Jesus revela quem é Deus e quem
somos nós. Em Jesus encontramos um Deus que nos
alcança, que cria comunhão e nos convida
a partilhar de sua alegria. Fomos feitos à imagem
de Deus e chamados à comunhão com Ele e
uns com os outros. Este amor oferece propósito
e molda todos os aspetos da vida humana, incluindo a família.
Questões para partilha
• O que há em Jesus que o torna totalmente
confiável?
• Que coisas em sua vida o distraem de Jesus? O
que o ajudaria a tornar-se mais familiar ou até
mesmo íntimo dele?
• O que a afirmação “criados
à imagem de Deus” significa? É possível
compreender a identidade humana sem Deus? Por que sim
ou por que não?
• O tema desta catequese é “O amor
é a nossa missão”. O que significa
“amor” em sua vida? O quanto a missão
de amar afeta suas escolhas, prioridades e ambições?
|
|