|
O realizador português Manoel de Oliveira
morreu hoje aos 106 anos de idade, deixando mais de 50
filmes que mereceram a distinção da Igreja
Católica em 2007 com o Prémio de Cultura
Padre Manuel Antunes.
O decano do cinema mundial, cuja última obra,
‘O Velho do Restelo’, estreou em dezembro
de 2014, discursou perante Bento XVI durante o encontro
do agora Papa emérito com o mundo da cultura, no
Centro Cultural de Belém, em Lisboa, a 12 de maio
de 2010.
No discurso intitulado ‘Religião e Arte’,
o cineasta considerou que estes dois conceitos estão,
“ainda que de um modo distinto é certo, intimamente
voltados para o homem e o universo, para a condição
humana e a natureza Divina”.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, em 2007,
o realizador falava sobre ideia de Deus: “Ninguém
nasceu por vontade própria. Fomos colocados cá
por vontade do Criador, Aquele a quem chamamos Deus. Somos
criaturas limitadas e, de certo modo, indefesas. Só
sabemos que quando nascemos iremos morrer”.
“Todos os meus filmes são religiosos”,
dizia ainda.
Manoel de Oliveira falou na “ideia, o receio, o
pensamento, o medo, o mistério e o segredo da morte”
e da “inquietação religiosa”
que nasceu perante o universo e a presença no mundo.
“Desde os primeiros homens, esse impacto face ao
universo e à criação que o rodeia
coloca-nos o problema do Criador. A verdade é que
a criação é um facto visível”,
referia.
Quando filmou ‘Mon Cas’, em 1986, Manoel
de Oliveira falou do "sinal inexorável e inextinguível
da presença de Deus".
Ao receber o prémio ‘Manuel Antunes’,
numa cerimónia que decorreu na Fundação
António Cupertino de Miranda, Porto, Manoel de
Oliveira recordava que começou “com grandes
certezas” e que com o tempo se tornou “menos
seguro, muito mais duvidoso, mas também mais apaixonado”.
D. Manuel Clemente, então presidente Comissão
Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações
Sociais, justificou a escolha com a importância
que na obra do cineasta é dada à pessoa
humana.
"Apaixonado juvenil de velocidade, filmou o rio
e a sua faina com cenas estonteantes de sugestão
e ritmo. Como depois, em história infantil de correria
e jogo. Mas, já então, sobressaindo o recorte
de cada figura, a densidade de cada personagem. Ressaltava,
em suma, a humanidade de cada figurante, ou melhor, cada
figura da humanidade transportada", observou.
LFS/OC
|
|