Um Sínodo dos Bispos,
qualquer que seja o tema sobre o qual é convidado
a pronunciar-se, é sempre um acontecimento importante
na vida da Igreja. Mas o Sínodo Extraordinário
(ou seja, que tem lugar fora do ritmo normal da convocação
do Sínodo dos Bispos, de três em três
anos) e que se iniciou em Roma no passado dia 5 de Outubro
sobre “os desafios pastorais da família no
contexto da evangelização” reveste-se
de uma particular importância.
Creio que todos temos consciência do facto de que,
no nosso mundo ocidental, a família está
a passar por uma grave crise: uma crise que pode colocar
em causa o futuro da própria sociedade. Porque,
por muito que os célebres “estudos”
possam querer dizer o contrário, o facto é
que um ser humano não é o mesmo se viver
num saudável ambiente familiar, ou se crescer numa
família completamente desestruturada.
Por outro lado, noutros pontos do mundo, a família
vive realidades completamente diferentes das nossas. Mesmo
as famílias cristãs. E não podemos
pensar que o mundo ocidental e os seus problemas são
aqueles que importam – em particular, os únicos
que importam à Igreja Católica.
Contudo, existem realidades que são comuns, que
marcam a vida de todo e qualquer ser humano e toda e qualquer
comunidade cristã. Em primeiro lugar, a realidade
familiar como estrutura da sociedade e como “Igreja
doméstica”. Depois, o seu lugar essencial
na evangelização. Finalmente, todas as questões
que, sobretudo no modo de viver ocidental, têm surgido.
A comunicação social conseguiu centrar
as atenções no debate acerca da possibilidade
da comunhão eucarística dos divorciados
recasados. É, inegavelmente, uma questão.
Mas não o seria se o sacramento do matrimónio
fosse habitualmente preparado, celebrado e vivido de um
modo verdadeiramente cristão.
Ou seja: a comunhão eucarística dos divorciados
recasados é uma questão fruto de muitos
outros problemas pelos quais passa a vida das nossas famílias.
E mesmo que encontre alguma resposta na reflexão
do Sínodo, mal seria se este ignorasse todas as
outras dificuldades por que passam as nossas famílias,
e que são, em primeiro lugar, humanas (que lugar
queremos dar à família no nosso viver em
sociedade); ou que são, também, questões
de vida cristã.
Em particular, trata-se de distinguir mais claramente
aquilo que é apenas fruto de um modo de vida passageiro,
por vezes causado mais por modas culturais que por dificuldades
reais, e aquilo que, na vida cristã deve ser fruto
da vontade de Deus e que não pode ser colocado
em causa.
Como quer que seja, todos nós que não participamos
nas reuniões sinodais havemos de as acompanhar
com a oração, pedindo ao Espírito
Santo que ilumine os Bispos reunidos em Sínodo.
Bispo Auxiliar do Patriarcado de Lisboa
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