|
Estimados concidadãos e também
vós, os imigrantes que connosco constituís
Portugal, neste difícil fim de 2011:
É com inteira proximidade e muito
afeto que vos dirigimos esta mensagem, querendo assinalar
o nosso compromisso com todos, especialmente os mais atingidos
pela presente crise e as grandes interrogações
que ela levanta.
Atravessamos dificuldades grandes, como
grandes são as incertezas quanto ao futuro, tanto
na economia como na vida social, para a generalidade dos
cidadãos e muito especialmente os mais pobres e
frágeis. Como bispos católicos, devemos
e queremos estar absolutamente com todos, em especial
com quem mais precisa de palavras e gestos de esperança:
esta nasce da solidariedade e de um Deus que nunca nos
abandona. Na compreensão cristã da vida,
a generosidade e a coragem com que se superam as dificuldades
são fermento de uma sociedade nova.
Não é a primeira vez na
nossa história que os sobressaltos na vida habitual
e nas expectativas normais se tornam ocasiões de
consciencialização e decisão coletivas.
Aproveitemos este momento, que não desejávamos,
para aprofundar valores que não deveríamos
esquecer nunca, pois são a própria base
duma sociedade justa e saudável.
É certo que se juntaram fatores
externos e internos, como muitas análises, mais
ou menos coincidentes, não deixam de evidenciar.
Excessiva especulação financeira e pouca
consistência económica somaram-se negativamente
e tanto nos enfraqueceram internamente como nos prejudicaram
internacionalmente. Alimentámos, ou alimentaram-nos,
aspirações que agora são impossíveis
de concretizar. Falha hoje a própria base material
em que tudo o mais se sustenta, ou seja, uma vida económica
saudável e suficientemente apoiada pelo investimento
e pelo crédito, que garanta trabalho digno para
todos: trabalho que é condição indispensável
para o sustento e a realização das pessoas
e das famílias.
Acompanhamos o esforço dos vários
responsáveis nacionais e internacionais, agora
mais premente pela magnitude dos problemas. É cada
vez mais claro que a política internacional não
pode reduzir-se, nem muito menos submeter-se, a obscuros
jogos de capital que fariam desaparecer a própria
democracia. Esta só acontece onde todos se reconhecem,
respondendo cada um pelo que faz ou não faz, à
luz de valores e direitos que a todos interessam e suportam.
O capital provém do trabalho, que, realizando a
pessoa humana, mantém prioridade absoluta. Nem
podemos abster-nos da vida democrática, nem devemos
cair nas mãos de novos senhores sem rosto. Também
aqui se há de respeitar a verdade, condição
básica da justiça e da paz.
Nesta curta mensagem, que pretende ser
um sinal de presença, oferecemos o que nos é
mais próprio como Igreja Católica em Portugal:
– A nossa solidariedade ativa,
como é exercida diariamente pelas instituições
sociais católicas, com todas as possibilidades
que tivermos e em franca colaboração com
tudo o que se faça na sociedade em prol de um bem
que tem de ser verdadeiramente comum e não deixe
ninguém em condições desumanas.
– A nossa insistência nos
valores e princípios fundamentais da doutrina social
da Igreja, que aliás compartilhamos com a racionalidade
humana em geral, concretizando-se em quatro pontos axiais:
a dignidade da pessoa humana; o bem comum; a subsidiariedade,
que suscita e apoia a contribuição específica
de cada corpo social; e a solidariedade, expressão
da fraternidade, que nunca procura o bem particular sem
ter em conta o bem de todos.
– A certeza, mais uma vez afirmada, de que compartilhamos
“as alegrias e as esperanças, as tristezas
e as angústias” dos nossos concidadãos,
querendo reproduzir agora os sentimentos daquele Cristo,
que tendo nascido há dois mil anos, quer “renascer”
também no Natal que se aproxima – e com a
mesma luz para idênticas trevas.
Com todos e cada
um de vós,
Os Bispos de Portugal
Fátima, 10 de Novembro de 2011
|
|