Ver a pessoa que sofre
com o olhar da contemplação
Todos os anos por ocasião
do Dia Mundial do Doente, o Santo Padre envia uma mensagem
aos doentes de todo o mundo. Este ano de 2011, escolheu
um tema de rara beleza: “ver a pessoa que sofre
com o olhar da contemplação”
Na sua mensagem, o Papa pede para nunca se esquecerem
os doentes e lembrar, logo depois, que eles não
podem ser marginalizados. De facto, a solidão é
o maior flagelo que atinge os doentes, sobretudo se fechados
em sua casa. Por outro lado é essencial compreender
o sofrimento, não o ignorar, mas acompanhar de
verdade os que sofrem. Estas atitudes e sentimentos refletem-se
no slogan do Dia Mundial do Doente:
Ver o homem que sofre, foi esta a atitude do samaritano,
na parábola do Evangelho. Se o sacerdote e o levita
passaram de lado, o estrangeiro viu e parou para cuidar.
Os cristãos têm de saber ver quem lhe está
perto e em sofrimento. As comunidades paroquiais têm
de conhecer os seus doentes, os seus idosos, os seus deficientes,
para deles cuidarem. Não se pode distraído,
passar de lado.
- Um olhar atento, de quem repara no pormenor, para conhecer
a situação concreta. Não pode ser
um olhar de curiosidade, nem um olhar de interesses, nem
um olhar de fuga, de desprezo ou de simples apatia, O
olhar tem de ter em atenção a pessoa concreta
que, no dizer de Jesus, é Ele mesmo a solicitar
amor: “o que fizeste ao mais pequeno dos teus irmãos,
foi a mim que o fizeste” (Mt. 25.40)
- Com olhos de contemplação, como quem não
tem pressa, reconhece na pessoa que sofre um irmão
e até descobre nela a pessoa de Jesus que sabe
vivo, apesar da dor que O envolve. Contemplar quer dizer
observar com ternura, admirar durante muito tempo, estabelecer
uma relação mais profunda. Contemplar o
doente e ver nele a pessoa de Jesus acaba por tornar-se
um acto de reverência, quase de oração.
-Quanto mais frágil é o ser humano, mais
deve estar no centro das nossas preocupações.
Esta é uma norma fundamental para o cristão
e, mesmo, para qualquer homem de boa vontade. Não
é assim, porém, na sociedade onde se multiplicam
leis a excluir os que são incómodos. O abandono
e, até, a eutanásia, começam a ser
uma escolha estranha, perante os doentes mais graves.
Ao cristão é pedida uma presença
continuada que contrarie o isolamento, abra as portas
ao jogo de afetos, indispensável à qualidade
de vida.
Uma sociedade sem atenção aos doentes é
cru- el e desumana. Esta afirmação de Bento
XVI é um grito de extraordinária atualidade.
A sociedade de consumo, a sociedade do bem-estar, a sociedade
da facilidade, é uma sociedade que esquece facilmente
os seus melhores servidores. Os idosos são as primeiras
vítimas, mas os doentes crónicos, os deficientes,
os doentes terminais, porque não trazem mais valia
à sociedade, porque não produzem, acabam
por ser esquecidos e marginalizados. E uma sociedade comodista
que só se move quando da ação pode
advir lucro. É mesmo cruel e desumana.
- A medida de humanidade é proporcional à
atenção que se dá àqueles
que sofrem. Está aqui a responsabilidade dos cristãos
e das suas comunidades, fazer surgir uma nova humanidade
que “acolha e compreenda todos os homens, mesmo
os mais doentes, e seja solidária com todos sobretudo
com os mais pobres e os que não têm ninguém.
(cf. EN 21)
- O Santo Padre termina a sua mensagem com uma expressão
lindíssima “Pelas chagas de Cristo é
que somos curados”. A partir desta ideia-chave que
recolheu da sua recente visita ao Santo Sudário,
em Tu- rim, Bento XVI acrescenta: “A cruz de Cristo
é o Sim de Deus ao homem, a expressão mais
alta e mais intensa do seu amor e a fonte de onde brota
a vida eterna”. Neste sentido, o Papa tem uma palavra
de ternura para “os que se dedicam a cuidar e a
aliviar as chagas de cada irmão ou irmã
doentes, nos hospitais, nas clínicas ou nas famílias”
“no rosto dos doentes, podemos ver sempre o rosto
dos rostos: o de Cristo”.