Exortação apostólica
«Verbum Domini» retoma Sínodo de 2008,
apelando ao diálogo entre religiões e ao
compromisso pela «transformação do
mundo»
O Vaticano apresentou no passado dia 11 de Novembro a
segunda exortação apostólica de Bento
XVI, intitulada «Verbum Domini» (Palavra do
Senhor), na qual o Papa convida a Igreja e a sociedade
actual à redescoberta de Deus.
“Num mundo que, muitas vezes, sente Deus como supérfluo
ou estranho, não há maior prioridade do
que esta: reabrir ao homem de hoje o acesso a Deus, ao
que Deus que fala e comunica o seu amor”, escreve.
O Papa defende que a relação com a Bíblia
deve levar a um compromisso efectivo para “tornar
o mundo mais justo”, denunciando “sem ambiguidades
as injustiças” e promovendo “a solidariedade
e a igualdade”.
“O compromisso pela justiça e a transformação
do mundo é constitutivo da evangelização”,
refere o documento.
A Palavra de Deus, acrescenta Bento XVI, é também
“fonte de reconciliação e de paz”,
pelo que as religiões “não podem nunca
justificar a intolerância ou as guerras”.
“Não se pode usar a violência em nome
de Deus”, sustenta.
“Todas as religiões deviam impelir para um
uso correcto da razão e promover valores éticos
que edifiquem a convivência civil”, acrescenta.
Bento XVI exprime “a gratidão da Igreja inteira
aos cristãos que não se rendem perante os
obstáculos e as perseguições por
causa do Evangelho”.
“Ao mesmo tempo unimo-nos, com profunda e solidária
estima, aos fiéis de todas as comunidades cristãs,
particularmente na Ásia e na África, que
neste tempo arriscam a vida ou a marginalização
social por causa da fé”, prossegue.
Fruto da XII assembleia ordinária do Sínodo
dos Bispos, em 2008, a exortação –
documento eminentemente catequético – sublinha
que a Sagrada Escritura contém resposta às inquietações da sociedade actual.
O Papa lamenta que, sobretudo no Ocidente, se divulgue
a ideia de que “Deus seja alheio à vida e
aos problemas dos homens e que a sua presença pode
ser uma ameaça à autonomia” do ser
humano.
Para Bento XVI, é essencial “redescobrir
a centralidade da Palavra de Deus” na vida de cada
crente e na da Igreja, no seu conjunto, falando na “urgência
e beleza” de a anunciar para a salvação
da humanidade.
Num documento longo, com quase 200 páginas, todos
os católicos são chamados a tornar-se mais
“familiarizados com as Sagradas Escrituras”,
que coloca como fundamento de “qualquer espiritualidade
cristã viva e autêntica”.
Esta Palavra de Deus, por outro lado, “não
se contrapõe ao homem, não mortifica os
seus desejos autênticos, mas ilumina-os, purificando-os
e levando-os ao seu cumprimento”, indica a exortação.
Para Bento XVI, “só Deus responde à
sede que há no coração de cada homem”,
pelo que é fundamental para a Igreja “apresentar
a Palavra de Deus na sua capacidade de dialogar com os
problemas que o homem tem de enfrentar na vida quotidiana”.
O Papa lembra que a Igreja “reconhece como parte
essencial do anúncio da Palavra o encontro, o diálogo
e a colaboração com todos os homens de boa
vontade, particularmente com as pessoas pertencentes às
diversas tradições religiosas da humanidade”.
Esse diálogo, no entanto, “não seria
fecundo, se não incluísse também
um verdadeiro respeito por todas as pessoas, para que
possam aderir livremente à sua própria religião”.
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