|
Na passada Sexta-feira, 6 de Novembro,
celebrou-se pela primeira vez a festa litúrgica
de São Nuno de Santa Maria, após a sua canonização
por Bento XVI no passado dia 26 de Abril, no Vaticano.
Nascido a 24 de Junho de 1360, o novo santo português
foi um dos portugueses que mais profundamente marcaram
a história do nosso país. Depois da sua
carreira militar, pediu a admissão, como irmão
leigo, na Ordem do Carmo. Tinha grande devoção
à Virgem Maria e mostrou sempre grande compaixão
para com os pobres. Morreu no Domingo da Ressurreição
do ano de 1431 (1 de Abril).
Celebrar e recordar os santos é sobretudo recordar
a sua vida e vê-los como um modelo para a nossa
própria vida cristã. Para nos ajudar nesta
reflexão pessoal e comunitária recordamos
parte da Nota Pastoral publicada pela Conferência
Episcopal Portuguesa, por ocasião da Canonização
de São Nuno e intitulada: “Exemplo heróico
em tempo de crise”.
D. Nuno Álvares Pereira não é apenas
o herói nacional, homem corajoso, austero, coerente,
amigo da Pátria e dos pobres, que os cronistas
e historiadores nos apresentam. Ele é também
um homem santo. A sua coragem heróica em defender
a identidade nacional, o seu desprendimento dos bens e
amor aos mais necessitados brotavam, como água
da fonte, do amor a Cristo e à Igreja. A sua beatificação,
nos começos do século XX, apresentou-o ao
povo de Deus como modelo de santidade e intercessor junto
de Deus, a quem se pode recorrer nas tribulações
e alegrias da vida.
Conscientes de que todos os santos são filhos
do seu tempo e devem ser vistos e interpretados com os
critérios próprios da sua época,
desejamos propor alguns valores evangélicos que
pautaram a sua vida e nos parecem de maior relevância
e actualidade.
Os ideais da Cavalaria, nos quais se formou D. Nuno, podem
agrupar se em três arcos de acção:
no plano militar, sobressaem a coragem, a lealdade e a
generosidade; no campo religioso, evidenciam-se a fidelidade
à Igreja, a obediência e a castidade; a nível
social, propõem-se cortesia, a humildade e a beneficência.
Foram estes valores que impregnaram a personalidade de
Nuno Álvares Pereira, em todas as vicissitudes
da sua vida, como documentam os seus feitos militares,
familiares, sociais e conventuais.
Fazia também parte dos ideais da Cavalaria a protecção
das viúvas e dos órfãos, assim como
o auxílio aos pobres. Em D. Nuno, estes ideais
tornaram-se virtudes intensamente vividas, tanto no tempo
das lides guerreiras como principalmente quando se desprendeu
de tudo e professou na Ordem do Carmo. Como porteiro e
esmoler da comunidade, acolhia os pobres de Lisboa, que
batiam às portas do convento e atendia-os com grande
humildade e generosidade. Diz-se que teve aqui origem
a «sopa dos pobres».
Levado pela sua invulgar humildade, iluminada pela fé,
desprendeu-se de todos os seus bens – que eram muitos,
pois o Rei o tinha recompensado com numerosas comendas
– e repartiu-os por instituições religiosas
e sociais em benefício dos necessitados.
Desejoso de seguir radicalmente a Jesus Cristo, optou
por uma vida simples e pobre no Convento do Carmo e disponibilizou-se
totalmente para acolher e servir os mais desfavorecidos.
Esta foi a última batalha da sua vida. Para ela se
preparou com as armas espirituais de que falam a carta aos
Efésios (cf. Ef 6, 10 20) e a Regra do Carmo: a couraça
da justiça, a espada do Espírito (isto é,
a Palavra de Deus), o escudo da fé, a oração,
o espírito de serviço para anunciar o Evangelho
da paz e a perseverança na prática do bem.
Precisamos de figuras como Nuno Álvares Pereira:
íntegras, coerentes, santas, ou seja, amigam de
Deus e das suas criaturas, sobretudo das mais débeis.
São pessoas como estas que despertam a confiança
e o dinamismo da sociedade, que fazem superar e vencer
as crises.
(…)
Vivemos em tempo de crise global, que tem origem num vazio
de valores morais. O esbanjamento, a corrupção,
a busca imparável do bem estar material, o relativismo
que facilita o uso de todos os meios para alcançar
os próprios benefícios, geraram um quadro
de desemprego, de angústia e de pobreza que ameaçam
as bases sobre as quais se organiza a sociedade. Neste
contexto, o testemunho de vida de D. Nuno constituirá
uma força de mudança em favor da justiça
e da fraternidade, da promoção de estilos
de vida mais sóbrios e solidários e de iniciativas
de partilha de bens. Será também um apelo
a uma cidadania exemplarmente vivida e um forte convite
à dignificação da vida política
como expressão do melhor humanismo ao serviço
do bem comum.
|
|