Votar, um exercício de cidadania
Dada a importância social e política que
as eleições revestem num regime democrático,
este acontecimento não nos pode deixar indiferentes.
A Igreja, na linha de pensamento de Paulo VI, continua
a considerar a acção política como
uma “arte nobre”.
Dentro da missão que nos é própria,
sentimos o dever de proporcionar aos cristãos das
nossas comunidades, e aos cidadãos em geral que
estejam abertos a ouvir a nossa voz, um contributo que
estimule o dever de votar e ajude a exercer este direito,
em liberdade de consciência esclarecida.
Os cristãos devem sentir o dever de votar, bem
como de se esclarecerem sobre o sentido do seu voto. Um
dever de consciência do qual não se podem
moralmente eximir, e que servirá ainda de exemplo
aos mais jovens, tantas vezes alheados da construção
de um futuro, que especialmente lhes pertence.
Candidatos ao serviço do bem comum
É fundamental que os eleitores tenham consciência
do que está em causa quando se vota.
Os responsáveis políticos têm o dever
de formular programas eleitorais realistas e exequíveis,
que motivem os eleitores na escolha das políticas
propostas e dos candidatos que apresentam. Este dever
exige dos mesmos responsáveis a obrigação
de visar o bem comum e o interesse de todos, como finalidade
da acção política, propondo aos eleitores
candidatos capazes de realizar a sua missão com
competência, cultura e vivência cívica,
fidelidade e honestidade, sempre mais orientados pelo
interesse nacional, que pelo partidário ou pessoal.
Ser apresentado como candidato não é uma
promoção ou a paga de um favor, mas um serviço
que se pede aos mais capazes.
Os regimes democráticos, como as pessoas que neles
actuam mais visivelmente, não são perfeitos.
A política é acção do possível.
É, porém, necessário que se vão
alargando sempre mais as margens do possível, para
que a esperança não dê lugar a desilusões.
Critérios e valores a respeitar e promover
Em todas as eleições, como na acção
política normal, o critério fundamental
deve ser a pessoa humana concreta, servida e respeitada
na sua dignidade e direitos. Assim poderá satisfazer
também os seus deveres. É este respeito
e cuidado que permite realizar a Humanização
da sociedade.
Ninguém deve esperar que um programa político
seja uma espécie de catecismo do seu credo, mas
um modo de compromisso para a solução dos
problemas do país. Neste sentido, enumeramos alguns
critérios que consideramos importantes para escolher
quem possa melhor contribuir para a dignificação
da pessoa e a realização do bem comum:
• – promoção dos Direitos Humanos;
• – defesa e protecção da instituição
familiar, fundada na complementaridade homem mulher;
• – respeito incondicional pela vida humana
em todas as suas etapas e a protecção dos
mais débeis;
• – procura de solução para
as situações sociais mais graves: direito
ao trabalho, protecção dos desempregados,
futuro dos jovens, igualdade de direitos e melhor acesso
aos mesmos por parte das zonas mais depauperadas do interior,
segurança das pessoas e bens, situação
dos imigrantes e das minorias;
• – combate à corrupção,
ao inquinamento de pessoas e ambientes, por via de alguma
comunicação social;
• – atenção às carências
no campo da saúde e ao exercício da justiça;
• – respeito pelo princípio da subsidiariedade
e apreço pela iniciativa pessoal e privada e pelo
trabalho das instituições emanadas da sociedade
civil, nomeadamente quando actuam no campo da educação
e da solidariedade…
O eleitor cristão não pode trair a sua consciência
no acto de votar. Os valores morais radicados na fé
não podem separar se da vida familiar, social e
política, mas
devem encarnar se em todas as dimensões da vida
humana. As opções políticas dos católicos
devem ser tomadas de harmonia com os valores do Evangelho,
sendo coerentes com a sua fé vivida na comunidade
da Igreja, tanto quando elegem como quando são
eleitos.
Apelo aos candidatos e eleitores
Reconhecendo a acção política como
uma “arte nobre”, não podemos deixar
de apelar, aos políticos em acção
e aos candidatos à eleição, que se
empenhem, com o seu exemplo e testemunho, em dignificar
a actividade política, na edificação
de uma sociedade justa e fraterna, sempre possível
e mais necessária numa sociedade plural e democrática.
A Igreja não tem nem pretende ter nenhum partido
político, mas não esquece o seu papel na
defesa da democracia, reconhecido pelos políticos
mais lúcidos e pelo povo, bem como o seu empenhamento
nas causas sociais, onde o bem de todos e a solidariedade
exigem a sua presença.
Vemos, com esperança, as próximas eleições,
dada a importância que têm neste momento europeu
e nacional, e tudo faremos pelo seu êxito, estimulando
os membros das comunidades que nos estão confiadas,
para que exerçam o seu direito e dever de votar,
em consciência e liberdade.
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