O dinamismo criado na comunidade de Stº António dos Cavaleiros a propósito da construção da Igreja, espaço de reunião mas também de símbolo e realização de comunidade cristã, transbordou de tal modo que, paralelamente à inauguração de um local de culto e de catequese em 10 de Outubro 1982, surgiu a necessidade de uma estrutura e de um espaço onde fosse desenvolvida a dimensão sócio-caritativa da comunidade.
No espírito de quem avançou com o projecto estava presente o seguinte: Não existe comunidade cristã verdadeira quando falta o empenhamento comum, no bem-estar individual e colectivo com prioridade para os mais pobres; A acção sócio-caritativa de dado cristão e de cada instituição e obra, há-de inserir-se na comunidade, para que partilhe do espírito que a anima e para que se assegure a necessária congregação de esforços; Cada cristão e cada instituição e obra, actuam como verdadeiros representantes da comunidade, precisamente na medida em que se insiram no espírito cristão que a anima, bem como nas orientações e planos da sócio-pastoral.
Um slogan publicitário apresentando Stº António dos Cavaleiros como a "Verdadeira cidade jardim, às portas de Lisboa com relva, árvores e flores, onde os seus filhos podem brincar, passear, respirar e descansar", nos anos de 1965, depressa perdeu a sua estratégia promocional.
Em 1978 surgiu o projecto dos "falanstérios", da Cidade Nova. Um projecto de dez mil fogos em edifícios volumosíssimos concentrados em enxame, construídos em ritmo acelerado, para enfrentar o afluxo de novos habitantes (em especial os retornados das antigas colónias portuguesas) e da carestia de habitação social.
A degradação ao nível habitacional foi acompanhada de outra degradação, humana, familiar, cultural e social, de tal forma que a idealizada "cidade jardim", dos anos 1965 fosse conhecida nos anos 80, como um "antro de droga".
Foi neste contexto que um grupo de paroquianos estudou, reflectiu e elaborou os Estatutos do Centro Cultural e Social de Stº António dos Cavaleiros, aprovados a 6 de Novembro de 1982 por ocasião da erecção canónica do próprio Centro (um mês após a inauguração da Igreja Paroquial). A Paróquia como tal, só viria a ser erecta canonicamente em 13 de Junho de 1983.
Assim se compreende a dimensão, talvez demasiado abrangente, que os Estatutos do Centro reflectiam no artigo 2, sobre os objectivos do Centro: "0 Centro tem por objectivo desenvolver na comunidade actividades de promoção cultural e social, dentro do espírito da doutrina da Igreja Católica, nomeadamente assistência social, educação musical, educação física e desportiva, teatro, cinema, conferências sobre temas de interesse geral ou local, e a criação de um gabinete médico, de uma biblioteca, de um grupo coral e de convívio de idosos, fomentando o espírito de solidariedade e de participação activa da população, na solução dos seus próprios problemas."
Imediatamente começaram a desenvolver-se as mais variadas acções, umas de carácter cultural e desportivo, outras de carácter social e recreativo, para dar resposta a tantas carências de um bairro, onde se pensou apenas em dar dormidas aos moradores, na medida em que são insuficientes a criação de equipamentos de apoio à família, à criança e ao idoso.
Rapidamente os espaços da Igreja se tornaram exíguos para tanta vitalidade surgida. Criou-se dinâmica de Centro Comunitário sem grande definição de valências.
As segundas inundações do Vale de Loures vieram pôr a nu, a situação carenciada de muitas famílias algumas das quais foram acolhidas nas instalações da igreja durante várias semanas.
A necessidade de alojamento, alimentação, cuidados de saúde e, sobretudo, atitudes de acolhimento, vieram alertar a Direcção do recém fundado Centro para uma realidade social deficitária.
Nasce o apoio a essas famílias numa linha assistencial. Organizam-se equipas de acolhimento, de distribuição de roupas, de fornecimento de alimentos, com o apoio da Cáritas Diocesana de Lisboa, e uma contribuição do próprio Centro.
Organizam-se os chamados Cabazes de Natal, a distribuir pelas famílias mais necessitadas com campanhas de angariação de alimentos entre os habitantes do bairro. Esta assistência continua ainda hoje, particularmente a partir do Protocolo que o Centro estabeleceu com o Banco Alimentar Contra a Fome, em 15 de Julho de 1992. São apoiadas actualmente cerca de 100 famílias. É numa sala das instalações da Paróquia que se armazena cerca de 2000 Kg de alimentos todos os meses, provenientes do Banco Alimentar.
Durante vários anos o Centro colaborou no fornecimento de refeições às crianças mais carenciadas da Escola do 1º e 2º Ciclo do Ensino Básico de Stº António dos Cavaleiros.
Significativa é também a acção desenvolvida no âmbito do Programa de Apoio a Situações de Carência Alimentar da População Infantil Lactente. Mais uma vez, houve que encontrar disponibilidade de espaço físico nas instalações da Igreja, para o armazenamento de leite, e pessoas para distribui-lo, conforme Protocolo estabelecido com o Governo Civil de Lisboa em 8 de Janeiro de 1987, abrangendo várias freguesias limítrofes da freguesia de Stº António dos Cavaleiros. Este protocolo foi renovado em 1 de Dezembro de 1993, sendo acrescida a responsabilidade do Centro, competindo-lhe também o estudo económico das situações, dos agregados familiares da população infantil e a definição das situações de carência, do montante em espécie e da sua duração.
Na sequência da colaboração prestada por esta instituição ao Centro Regional de Segurança Social de Lisboa, aquando da realização de cursos de formação profissional, entre 1987 e 1988, foi celebrado Acordo de Cooperação com o Centro Regional de Segurança Social, para a criação da valência de Centro de Convívio para idosos, a 30 de Setembro de 1991, funcionando desde então numa sala das instalações da Igreja, com capacidade para 30 idosos.
Em 1994 foi solicitado o apoio dos grupos de Alcoólicos Anónimos (AA), Narcóticos Anónimos (NA), e suas Famílias (FA). Reúnem-se semanalmente, numa pequena sala com capacidade para 15 pessoas. Estes grupos ultrapassam consideravelmente este número, tendo mesmo que solicitar à Igreja outros espaços, para as suas reuniões.
O desenrolar de todas as actividades tem sido possível graças a dois factores: disponibilidade, ainda que à custa de muitos sacrifícios e limitações das instalações da Igreja para essas actividades; voluntariado, de muitas pessoas permitindo tão grande acção com tão poucos recursos humanos e reduzidas condições de trabalho.
A experiência, a consciência das limitações de espaço e condições de trabalho, a necessidade da criação de equipamentos de apoio à família, levaram as várias Direcções do Centro desde 1984, a sonhar em ter instalações próprias e exclusivas para a acção social e de apoio à comunidade em geral, ou seja, criar um equipamento de resposta integrada.
Para além da valência de Centro de Convívio, desde Dezembro de 1995, passou também a funcionar a valência de Apoio Domiciliário. Mais uma vez, houve necessidade de congregar esforços da comunidade, reunindo os recursos disponíveis, de forma a desenvolver um projecto que beneficiou essencialmente a população idosa do bairro.
Sem uma cozinha para a confecção das refeições para o apoio domiciliário, houve necessidade de encontrar uma resposta. Primeiro, de fácil acesso, para que as Ajudantes Familiares não percorressem longos trajectos, segundo que fosse uma resposta ideal e de baixos custos.
Essa resposta encontrou-se num acordo efectuado com Associação de Pais da Escola do 1º Ciclo, entidade que gere o refeitório da Escola. As refeições passaram a ser confeccionadas na cozinha do refeitório, e a partirem dali devidamente acondicionadas para o domicílio do utente.
Para a criação da lavandaria, houve que adaptar uma casa de banho da Igreja Paroquial, de modo a serem instaladas as máquinas de lavar e secar.
Muitas vezes estes serviços do Centro, colidiram com actividades da Paróquia, criando-se uma certa incompatibilidade no uso efectivo dos espaços físicos da Igreja. Daí que desde a criação do Centro, foi sempre um sonho a construção de um espaço.
A partir de 1984 iniciaram-se as diligências para dotar o Centro de instalações próprias. A Fábrica da Igreja Paroquial de Stº António dos Cavaleiros cede o terreno contíguo a esta e em 21 de Agosto de 1990 a Câmara Municipal de Loures (CML) cede a outra parte do terreno, em direito de superfície.
Seguiu-se a elaboração do “Projecto de Arquitectura”, entregue na CML, merecendo a sua aprovação a 3 de Março de 1993.