III Domingo do Tempo Comum: Domingo da Palavra de Deus
Na solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo de 20 de novembro de 2016, termo do Jubileu extraordinário da Misericórdia, o Papa Francisco confiou à Igreja a sua Carta Apostólica Misericordia et misera (MM). No número dedicado à Palavra de Deus, afirma o Santo Padre: "é meu vivo desejo que a Palavra de Deus seja cada vez mais celebrada, conhecida e difundida, para que se possa, através dela, compreender melhor o mistério de amor que dimana daquela fonte de misericórdia". Para concretizar este desejo, continua o Papa Francisco: "Seria conveniente que cada comunidade pudesse, num domingo do ano litúrgico, renovar o compromisso em prol da difusão, conhecimento e aprofundamento da Sagrada Escritura: um domingo dedicado inteiramente à Palavra de Deus, para compreender a riqueza inesgotável que provém daquele diálogo constante de Deus com o seu povo" (MM,7).
Mais recentemente, no dia 30 de setembro de 2019, o Santo Padre fez publicar uma nova Carta Apostólica sob forma de Motu Proprio, Aperuit illis (AI), pela qual institui o III domingo do Tempo Comum como "Domingo da Palavra de Deus". Pretende, desta forma, "dar resposta aos muitos pedidos que chegaram da parte do povo de Deus no sentido de se poder celebrar o domingo da Palavra de Deus em toda a Igreja e com unidade de intenções" (AI 2). E explica a razão desta data: "colocar-se-á, assim, num momento propício daquele período do ano em que somos convidados a reforçar os laços com os judeus e a rezar pela unidade dos cristãos. Não se trata de mera coincidência temporal: a celebração do domingo da Palavra de Deus expressa uma valência ecuménica, porque a Sagrada Escritura indica, a quantos se colocam à sua escuta, o caminho a seguir para se chegar a uma unidade autêntica e sólida" (AI 3).
Como sublinha ainda o Papa Francisco, o dia dedicado à Bíblia pretende ser, não «uma vez no ano», mas é para ser vivido todo o ano, já que temos urgente necessidade de nos tornar familiares e íntimos da Sagrada Escritura e do Ressuscitado, que não cessa de partir a Palavra e o Pão na comunidade dos crentes. Para tal, "precisamos de entrar em confidência assídua com a Sagrada Escritura; caso contrário, o coração fica frio e os olhos permanecem fechados, atingidos, como somos, por inumeráveis formas de cegueira" (AI 8).
Destas duas cartas apostólicas, podemos retirar algumas propostas concretas sugeridas pelo Papa:
Que seja um dia dedicado à "celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus" (AI 3), para que possa "fazer crescer no povo de Deus uma religiosa e assídua familiaridade com as sagradas Escrituras" (AI 15).
Que na celebração eucarística, se possa "entronizar o texto sagrado, de modo a tornar evidente aos olhos da assembleia o valor normativo que possui a Palavra de Deus" (AI 3).
Que se faça todo o esforço possível no sentido de "preparar alguns fiéis para serem verdadeiros anunciadores da Palavra com uma preparação adequada, tal como já acontece habitualmente com os acólitos ou os ministros extraordinários da comunhão" (AI 3).
Que os catequistas, atendendo ao ministério que desempenham de ajudar a crescer na fé, "sintam a urgência de se renovar através da familiaridade e estudo das Sagradas Escrituras, para que possam promover um verdadeiro diálogo entre aqueles que os escutam e a Palavra de Deus" (AI 5).
"Que se promova uma difusão mais ampla da lectio divina para que, através da leitura orante do texto sagrado, a vida espiritual encontre apoio e crescimento" (MM 7).
Que haja especial cuidado na preparação da homilia e na sua proclamação. "Comunicar a certeza de que Deus nos ama não é um exercício de retórica, mas condição de credibilidade do próprio sacerdócio" (MM 6). Por isso, é preciso dedicar o tempo conveniente à preparação da homilia. "Nunca nos cansemos de dedicar tempo e oração à Sagrada Escritura" (AI 5).
Estas duas Cartas Pastorais surgem no decorrer da Assembleia Sinodal e da recepção sistemática da Constituição Sinodal (CSL) no Patriarcado de Lisboa. Vale a pena recordar o que é dito no número 38, escolhido para o primeiro ano do triénio da recepção: "A Palavra de Deus tem uma importância nuclear na vida da Igreja, no percurso de fé dos crentes e na construção da sua própria personalidade. Ela faz nascer a Igreja e desperta a fé em cada momento da vida. É urgente recolocar a Palavra de Deus no centro das comunidades cristãs, mobilizando os recursos necessários para que seja conhecida, escutada, meditada, rezada, celebrada, cantada, vivida, testemunhada e bem proclamada" (CSL 38).
Também neste número da Constituição Sinodal se sugeriam algumas propostas concretas, muito oportunas para a vivência e celebração deste Domingo da Palavra de Deus: "Que se promova a leitura orante da Escritura e a formação bíblica; a sua presença em todos os momentos da evangelização; o seu papel fundamental nos processos de conversão e de crescimento na fé e de discernimento das motivações para seguir Jesus; o seu lugar estruturante na definição dos itinerários catequéticos" (CSL 38).
E porque a recepção sinodal é um processo contínuo e não pretende deixar para trás, antes consolidar, cada um dos números selecionados das três dimensões: profética, sacerdotal e real, vale a pena revisitar a carta que o senhor Patriarca escreveu aos diocesanos de Lisboa no ano pastoral de 2017/2018 - fazer da Palavra de Deus o Lugar onde nasce a fé -, muito rica na sua reflexão e indicações práticas, que poderá ser de grande utilidade para preparar e viver este domingo da Palavra de Deus, instituído pelo Santo Padre.
Que a Virgem Maria que, pelo seu Sim, consentiu que o "Verbo se fizesse carne e habitasse entre nós" nos ajude a acolher a Palavra da Vida no nosso coração e em nossas Comunidades.