1. Importa e é urgente pensar e alcançar que a oração, a catequese e a celebração cristã do domingo que têm lugar no âmbito da comunidade cristã e da paróquia, penetrem a família que deve tornar-se o que é: “a Igreja doméstica”. Na realidade, se assim não for, tudo quanto fizermos ao nível das nossas comunidades será isolado, pontual e desconexo, tanto para os jovens e adultos e, dificilmente, marcará ou animará a vida de cada dia. A família deve tornar-se o espaço da preparação da liturgia da comunidade e o eco da vida espiritual da Igreja.
2. A Quaresma é a preparação para a Páscoa. A liturgia apresenta-nos a Quaresma como um caminho com Cristo. Neste caminhar vão todos, os pais e fi lhos, adultos e jovens, velhos e crianças, Papa, bispos, padres, catequistas, etc… Por isso, no início da Quaresma invocamos aqueles que trilhando este caminho, o do Evangelho, chegaram à meta: a Virgem Maria e os Santos. Estas invocações poder-se-ão repetir nas nossas casas, de modo a recordar-nos que também nós vamos a caminho e que aqueles que já terminaram, nos podem ajudar com a sua intercessão.
3. Para a Quaresma, a Igreja tem um programa próprio e original: “a oração, o jejum e a esmola”. Deles nos fala novamente o Papa Francisco na sua Mensagem para a Quaresma. Pela “oração”, somos convidados a abrir-nos mais a Deus, escutando a Sua Palavra e meditando-a; fazendo a experiência de uma grande intimidade com Deus que é nosso Pai e de quem somos fi lhos (privilegiando a oração pessoal, a sós, no silêncio do nosso quarto); experimentando que a nossa família é a família de Deus (mediante a oração comunitária, em alguma hora do dia). Pelo “jejum”, buscamos e recuperamos a liberdade interior que nos torna sensíveis e capazes de desejar os bens mais excelentes, os valores espirituais. O “jejum” pode ter várias expressões adequadas: para além de sentir fome (4ª feira de cinzas e sexta-feira santa) ou de moderar o comer às sextas-feiras (abstinência), poderá tomar tantas outras formas que possam permitir mais tempo de encontro e diálogo, na família e com Deus, (ligar menos a televisão e rádio, falar menos para ouvir mais…), ou que favoreçam o exercício do auto-domínio e liberdade interior (desligar o telemóvel durante algumas horas, não fumar, não tomar bebidas alcoólicas, não desperdiçar, não comer uma guloseima…), etc., etc… e, sobretudo, aceitar, de bom grado, os deveres de cada dia, nomeadamente, os familiares. Poderia haver em família uma obra comum que exprimisse este exercício do “jejum”. Pela “esmola” se entende uma atitude de maior serviço e doação aos outros. Repartir os bens (nomeadamente os bens materiais) é uma atitude profundamente cristã. Mas esta atitude que engloba, antes de mais, a justiça social (pagar o justo salário a quem trabalha) e a solidariedade (repartir o seu pão com os necessitados) vai mais longe, levando aos outros uma palavra amiga, promovendo o diálogo e a concórdia, procurando a compreensão, oferecendo o perdão, manifestando uma disposição interior de serviço gratuito e disponível, etc… Também em família poderia haver uma obra comum que exprimisse uma atenção particular aos outros (alguma obra de misericórdia em determinados dias, etc.).
4. Em cada casa poder-se-ia assinalar a Quaresma com algum símbolo que, numa dependência comum lembrasse a todos o caminho para a Páscoa. Uma cruz especialmente entronizada, com uma luz; ou, então, a Bíblia ou os Evangelhos ou algum adereço de entre sugeridos nas várias propostas de «caminhadas» ou «navegações»… Este seria um lugar muito especial de reunião familiar para a oração.
5. Mas há outras iniciativas que poderão ser propostas pelos pais ou pelos fi lhos: oração antes e depois das refeições; o terço em família (ou só um mistério do terço, para os mais pequenos); a via-sacra (ou apenas
uma estação cada dia); o exame de consciência em comum, preparando o sacramento da penitência, na Quaresma, já que o objectivo é, sobretudo, o abandono do pecado; alguma privação familiar comunitária cuja poupança reverta para alguma obra boa (social, cultural ou espiritual). 6. A Páscoa é a grande festa dos cristãos. Preparemo-nos para ela convenientemente. Ao prepararmos a Páscoa, estamos a preparar a Festa que não terá fi m, a Páscoa eterna, com Deus e como todos os Santos.