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No ano pastoral dedicado à reflexão
sobre ‘Fazer da Palavra de Deus o lugar onde nasce
a fé’, o Cardeal-Patriarca de Lisboa destacou
a importância de a Palavra de Deus ocupar o “lugar
nuclear” na vida das comunidades cristãs.
Na primeira sessão dos Encontros de Santa Isabel,
D. Manuel Clemente alertou ainda para os riscos de uma
evangelização individual e sem consequências.
O tema do Patriarcado de Lisboa para o ano pastoral
2017-2018, ‘Fazer da Palavra de Deus o lugar onde
nasce a fé’, foi também o tema do
primeiro encontro da edição deste ano
dos Encontros de Santa Isabel, que teve como convidado
o Cardeal-Patriarca de Lisboa. No auditório da
Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, D. Manuel Clemente
começou por contextualizar a caminhada sinodal
que foi percorrida na diocese, ao longo de três
anos, e que foi concluída com a Assembleia Sinodal
que se realizou na Casa Diocesana de Espiritualidade,
no Turcifal, há pouco mais de um ano, e de onde
surgiu a Constituição Sinodal de Lisboa
(disponível em papel, na Livraria Nova Terra,
e em formato digital, em www.patriarcado-lisboa.pt).
“Este documento é precioso, porque tem
na sua base a Exortação Apostólica
‘A Alegria do Evangelho’, do Papa Francisco,
mas aplicado à realidade do Patriarcado de Lisboa.
Cada um destes 70 números tem contribuições
de muita gente”, lembrou o Cardeal-Patriarca,
referindo que a diocese se encontra na “fase de
receção” do documento.
Na sua intervenção nesta iniciativa organizada
pela Paróquia de Santa Isabel, D. Manuel Clemente
explicou a forma como foram encontrados os temas para
os três anos pastorais seguintes e, em particular,
a “forma unânime” como foi encontrado
o tema para este ano 2017-2018. Através da consulta
às 17 vigararias, resultou como tema, para o
primeiro ano pastoral após o Sínodo Diocesano,
uma escolha “quase espontânea” e em
larga maioria do número 38 da Constituição
Sinodal de Lisboa: ‘Fazer da Palavra de Deus o
lugar onde nasce a fé’. “É
por estes sinais que percebemos que, para além
de nós próprios e da nossa boa vontade,
é o Espírito de Deus a conduzir esta barca”,
sublinhou o Cardeal-Patriarca.
A Palavra é uma Pessoa
Falando mais concretamente sobre a importância
da Palavra de Deus, D. Manuel Clemente sublinhou a insistência
a dar à presença da Palavra na vida das
comunidades cristãs. “É urgente
dar à Palavra de Deus o lugar nuclear, ou central,
na vida da comunidade. Nós não nos reunimos
para falarmos as nossas coisas. Nós reunimo-nos,
antes de mais, para escutarmos aquilo que Deus nos diz
em Jesus Cristo e, depois, tirar daí todas as
consequências, por palavras e por obras, para
a vida, dentro e fora das comunidades”, destacou
o Cardeal-Patriarca de Lisboa, garantindo que o cristianismo
“não é a religião do livro”.
“Nós somos a religião do Verbo encarnado.
Aquilo que Deus nos diz, em Jesus Cristo, é Palavra,
mas é Vida. Portanto, é muito mais do
que o livro escrito, é uma Pessoa. É uma
Pessoa viva em que o que diz e o que faz se torna, para
nós, Vida. Ter este lugar essencial da Palavra
de Deus é central, nuclear. E quando não
é assim deixamos de ser ou ainda não começámos
a ser a religião do Verbo encarnado. Somos a
nossa religião”, apontou.
Questionando as largas dezenas de participantes sobre
se se recordavam do resultado do último jogo
de futebol dos seus clubes, em contraponto com as memórias
do Evangelho do último Domingo, o Cardeal-Patriarca
de Lisboa alertou, uma vez mais, para o trabalho que
ainda há a fazer para se crescer como Igreja.
“Se temos fé, se temos confiança
em Jesus Cristo, também temos fé, a partir
das palavras que Ele disse e que ficaram consignadas
no Evangelho. Aqui, uma tarefa fundamental para podermos
crescer como Igreja de Jesus Cristo, é fazer
eco da Palavra que Ele nos dirigiu. A Palavra deve ser
escutada, meditada rezada, celebrada, cantada, vivida”,
indicou D. Manuel Clemente.
Formação é essencial
Na segunda parte da análise ao número
38 da Constituição Sinodal de Lisboa,
o Cardeal-Patriarca apelou a que se “promova a
leitura orante da Escritura”. “Cada um dos
livros da Bíblia tem o seu contexto e há
livros de muitos géneros: livros que são
proféticos, históricos, de oração,
há livros com um cunho apocalíptico, que
é uma linguagem especial, muito simbólica
que fala de realidades definitivas. Não se pode
entender o todo da mesma maneira. Temos que saber do
que se trata em cada livro. Não basta colocar
a Bíblia na mão das pessoas. As pessoas
precisam de entender o que têm diante delas, saber
o significado de cada um daqueles livros, respetivo
contexto e a intenção. Esta formação
básica é essencial”, realçou
D. Manuel Clemente, sugerindo a Lectio Divina (Leitura
Orante da Palavra de Deus) como opção
para essa formação. “A Lectio Divina
é algo que nos faz muito bem se nós formos
iniciados nisso. Não é pegar no livro
e ler de qualquer maneira. É, por exemplo, ler
o Evangelho do dia, pedindo, antes de mais, que o Espírito
de Deus nos esclareça. Depois, lê-lo atentamente,
e, posteriormente, se não percebo, ir estudar
o que é que quer dizer. A seguir, é importante
deixar que tudo isso seja meditado, absorvido, interpolando-me
sobre o que aquela leitura me diz, hoje, a mim, na minha
vida. Daí brota a oração e, certamente,
terá consequência prática. Assim,
podemos entrar na compreensão do texto bíblico
e da Palavra de Deus, o lugar onde nasce a fé”,
assegurou o Cardeal-Patriarca de Lisboa.
A Palavra é o ponto de partida
O alerta do perigo de uma evangelização
desprovida da Palavra de Deus foi também deixado
por D. Manuel Clemente na primeira sessão dos
Encontros de Santa Isabel. “Por vezes ficamos
muito desconsolados porque aquilo que nós fazemos
com tão boa vontade e aquilo que nós dizemos
o melhor que sabemos, não pega. Aquilo que, na
nossa boca, não é eco da Palavra de Deus
não tem garantia. Portanto, quando a evangelização
não parte da Palavra de Deus, vale o que vale,
vale o que nós valemos – que não
é muita coisa, dura o que dura mas não
tem a eternidade daquela Palavra que Deus nos diz, em
Jesus Cristo. Aquilo que parte da Palavra de Deus, em
nós e por nós para os outros, tem a garantia
que Jesus diz no Evangelho: ‘As minhas palavras
são Espírito e Vida; Passarão os
céus e a terra e as minhas palavras não
hão de passar’. Porque Ele próprio
é Palavra de Deus, Ele transmite aquilo que tinha
ouvido do Pai”, afirmou o Cardeal-Patriarca de
Lisboa.
Na terceira e última parte da sua intervenção,
D. Manuel Clemente apontou a Palavra de Deus como ponto
de partida para todo o processo de iniciação
e formação cristã. “A iniciação
e o crescimento cristãos fazem-se sempre a partir
da Palavra. Jesus disse que a sua Palavra é como
uma semente lançada à terra e, se ela
a acolher, essa Palavra dá muito fruto. Nós
crescemos na medida em que assimilamos a Palavra, em
que assimilamos verdadeiramente Jesus como Palavra.
Não crescemos de outra maneira. A assimilação
da Palavra é fundamental, necessária e
imprescindível em qualquer etapa da vida cristã,
do nascer ao morrer. Não há iniciação
cristã sem a Palavra”, assegurou o Cardeal-Patriarca
de Lisboa.
Os Encontros de Santa Isabel (ver programa, em caixa)
vão decorrer todas as terças-feiras, às
21h30, até ao próximo dia 30 de janeiro,
no auditório da Escola de Hotelaria e Turismo
de Lisboa, na Rua Saraiva de Carvalho, em Lisboa. Este
ano tem como tema geral ‘A Palavra de Deus e a
nossa fé – na receção da
Constituição Sinodal de Lisboa’.
Reportagem publicada na edição
de 14 de janeiro de 2017 do jornal Voz da Verdade
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