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A santidade / Creio na comunhão dos santos
Os Santos manifestam de diversas formas
a presença poderosa e transformadora do Ressuscitado;
deixaram que Cristo se apoderasse tão plenamente
da sua vida que puderam afirmar com São Paulo:
«já não sou eu que vivo, é
Cristo que vive em mim» (Gl 2, 20).
Que significa ser santos? Quem é chamado a ser
santo? Com frequência somos levados a pensar ainda
que a santidade é uma meta reservada a poucos eleitos.
A santidade, a plenitude da vida cristã não
consiste em realizar empreendimentos extraordinários,
mas em unir-se a Cristo, em viver os seus mistérios,
em fazer nossas as suas atitudes, pensamentos e comportamentos.
A medida da santidade é dada pela estatura que
Cristo alcança em nós, desde quando, com
a força do Espírito Santo, modelamos toda
a nossa vida sobre a sua. É ser conformes com Jesus,
como afirma São Paulo: «Aqueles que ele conheceu
desde sempre, predestinou-os para serem conformes com
a imagem do seu Filho» (Rm 8, 29). E Santo Agostinho
exclama: «Será viva a minha vida toda repleta
de Ti» (Confissões, 10, 28). O Concílio
Vaticano II, na Constituição sobre a Igreja,
fala com clareza da chamada universal à santidade,
afirmando que ninguém é excluído
dela: «Nos vários géneros de vida
e nas várias formas profissionais é praticada
uma única santidade por todos os que são
movidos pelo Espírito de Deus e... seguem Cristo
pobre, humilde e carregando a cruz, para merecer ser partícipes
da sua glória» (nº 41).
Mas permanece a questão: como podemos percorrer
o caminho da santidade, responder a esta chamada? Posso
fazê-lo com as minhas forças? A resposta
é clara: uma vida santa não é fruto
principalmente do nosso esforço, das nossas acções,
porque é Deus, o três vezes Santo (cf. Is
6, 3), que nos torna santos, é a acção
do Espírito Santo que nos anima a partir de dentro,
é a própria vida de Cristo Ressuscitado
que nos é comunicada e que nos transforma.
Qual é a alma da santidade? De novo o Concílio
Vaticano II esclarece; diz-nos que a santidade cristã
mais não é do que a caridade plenamente
vivida: «"Deus é amor; quem permanece
no amor permanece em Deus e Deus nele" (1 Jo 4, 16).
Ora, Deus difundiu abundantemente o seu amor nos nossos
corações por meio do Espírito Santo,
que nos foi doado (cf. Rm 5, 5); por isso o primeiro dom
e o mais necessário é a caridade, com a
qual amamos Deus acima de todas as coisas e ao próximo
por amor a Ele.
Eis por que Santo Agostinho, comentando o capítulo
quarto da Primeira Carta de São João, pode
afirmar uma coisa corajosa: «Dilige et fac quod
vis», «Ama e faz o que queres». E prossegue:
«Quando silencias, que seja por amor; quando falas,
fala por amor; quando corriges, que seja por amor; quando
perdoas, que seja por amor; haja em ti a raiz do amor,
porque desta raiz só pode derivar o bem»
(7, 8: pl 35). Quem é guiado pelo amor, quem vive
a caridade plenamente é guiado por Deus, porque
Deus é amor. Assim é válida esta
grande palavra: «Dilige et fac quod vis»,
«Ama e faz o que queres».
Gostaria de convidar todos a abrir-se à acção
do Espírito Santo, que transforma a nossa vida,
para sermos também nós como peças
do grande mosaico de santidade que Deus vai criando na
história, para que o rosto de Cristo resplandeça
na plenitude do seu esplendor. Não tenhamos medo
de tender para o alto, para as alturas de Deus; não
tenhamos medo que Deus nos peça demasiado, mas
deixemo-nos guiar em todas as acções quotidianas
pela sua Palavra, mesmo se nos sentimos pobres, inadequados,
pecadores: será Ele que nos transforma segundo
o seu amor (Bento XVI).
Creio na comunhão dos santos
A Igreja é comunhão dos santos na medida
em que os seus membros são santificados, isto é,
tornados santos no baptismo pelo dom do Espírito
e pela sua incorporação, então realizada,
no Corpo de Cristo; é-o também na medida
em que vive destas realidades santas que são os
sacramentos, designadamente a Eucaristia.
A comunhão dos santos é principalmente esta
comunhão actual realizada pelo Espírito
Santo entre todos os discípulos de Cristo que vivem
hoje convocados na Igreja. A comunhão dos santos
é uma comunhão realizada com a Santa Virgem
Maria e com todos os santos do céu, em particular
com aqueles que foram canonizados, isto é, aqueles
cujo testemunho exemplar foi oficialmente reconhecido
pela Igreja. Com efeito, os cristãos não
encontram somente na vida dos santos, um modelo mas também
na comunhão com eles uma família, e na sua
intercessão um auxílio.
Mas a comunhão dos santos estende-se também
a todos aqueles que adormeceram na paz de Cristo. É
assim que a Igreja desde os primeiros tempos do cristianismo
cultivou com muita piedade a memória dos defuntos.
Podemos pedir ajuda aos santos que mais nos dizem e, inclusivamente
aos nossos familiares falecidos que cremos estarem já
em Deus. Inversamente, podemos ajudar os nossos falecidos,
ainda em processo de purificação, mediante
a nossa oração de súplica. Tudo o
que uma pessoa faz ou sofre em Cristo e por Cristo torna-se
proveitoso para todos; infelizmente, isso também
significa, contrariamente, que cada pecado danifica a
comunhão.
A festa de Todos os Santos reúne na mesma acção
de graças todos aqueles, conhecidos e desconhecidos,
que constituem a “cidade santa, a nova Jerusalém”
(Ap 21, 2), realização da humanidade segundo
o desígnio de Deus.
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