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O seu nome é João
O oitavo dia do nascimento de um menino é uma grande
festa em Israel. É nesse dia que o menino é
circuncidado e recebe o seu nome. A casa de Isabel enche-se
outra vez de familiares e vizinhos. Mais uma vez atento,
o narrador diz-nos que aquela gente que veio para a festa
queria dar ao menino o nome do seu pai, Zacarias (Lucas
1,59). Nem outra coisa era de supor, dado que, em contexto
bíblico, o filho primogénito recebia habitualmente
o nome do seu pai. Mas Isabel também estava atenta,
e reagiu logo, dizendo: «Não, o menino chamar-se-á
JOÃO (Lucas 1,60).
Os presentes ficaram atónitos com a reação
de Isabel, e fizeram questão de vincar tal incongruência,
referindo que na família ninguém tinha esse
nome (Lucas 1,61). Recorreram, pois, ao mudo Zacarias
para que se pronunciasse sobre o assunto do nome do menino.
Zacarias, porque estava mudo, pediu uma tabuinha de cera,
e escreveu: «O seu nome é JOÃO!»,
o que provocou o espanto de todos os presentes (Lucas
1,62-63).
Porquê, então, o nome de JOÃO? É
certo que já o Anjo tinha mencionado a Zacarias
este nome em Lucas 1,13. Mas porquê JOÃO,
se ali, no livro anagráfico daquela família
ninguém registava esse nome? O que significa o
nome JOÃO? Em hebraico, JOÃO diz-se Yôhanan.
Yôhanan significa literalmente «YHWH faz graça».
E o que é fazer «fazer graça»?
De forma plástica e concreta, é uma mãe
que embala ternamente o seu bebé nos braços
e baixa para ele o olhar carinhoso, bondoso, maravilhoso,
gracioso, maternal. É este duplo gesto de carinho
maternal que é a graça bíblica. Sobretudo
aquele olhar belo, enternecido, embevecido, maternal,
que enche o bebé de graça.
É assim que Deus olha para nós, e nos acaricia.
É assim que Maria é saudada pelo Anjo com
aquele: «Alegra-te, Cheia de Graça!»
(Lucas 1,28). E é isso que Maria canta no Magnificat:
«A minha alma engrandece o Senhor,/ e o meu espírito
exulta de alegria em Deus, meu Salvador,/ porque Ele Olhou
(epiblépô = olhar condescendente) para a
sua humilde serva» (Lucas 1,46-47).
O nome JOÃO não estava registado no livro
anagráfico daquela família. O nome dado
não é, portanto, da nossa colheita. Vem
de Deus. Foi anunciado pelo Anjo. O que é que isto
quer dizer? JOÃO é, por assim dizer, o último
profeta do Antigo Testamento, e o primeiro do Novo Testamento.
Sendo o último do Antigo Testamento, ele resume
todo o Antigo Testamento. E o resumo é este: «Deus
faz graça». Sendo o primeiro do Novo Testamento,
ele constitui o sumário de todo o Novo Testamento.
E o sumário é este: «Deus faz graça».
É a posição estratégica de
JOÃO no limiar dos Dois Testamentos, encerrando
um e abrindo outro, resumindo um e sumariando outro, que
explica a nossa estranheza. Mas JOÃO é uma
enorme lição. Neste Belo Nome está
contida a inteira Escritura e o inteiro afazer de Deus.
Parabéns, menino JOÃO, pelo teu nascimento
no nosso mundo. Tu, que nos vieste mostrar Deus!
António Couto
POSTED ON JUNHO 24 - 2016 BY CAMINHOSCARMELITAS
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