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A preocupação pela pessoa
foi destacada durante a visita do Cardeal-Patriarca de
Lisboa ao Hospital de São José, que decorreu
no passado dia 19 de março, Solenidade de São
José e Dia do Pai. Durante toda a tarde, D. Manuel
Clemente reuniu com a administração, visitou
os doentes, celebrou a Eucaristia e encontrou-se com os
visitadores católicos.
O Cardeal-Patriarca de Lisboa aproveitou a visita ao
Hospital de São José para sublinhar a preocupação
da Igreja pelas pessoas. “A Igreja Católica
é uma instituição muito presente
no serviço ao outro, não só daqueles
que são católicos mas também da sociedade
em geral. Tudo o que seja sinergias e aproximações
entre instituições que têm como alvo,
de uma maneira ou de outra, servir as pessoas, é
muito bom. Com este conhecimento mútuo, poderemos
vir a fazer mais e melhor, no respeito pela competência
de cada um, com certeza, mas sabendo que o ‘público
alvo’ é o mesmo: as pessoas”, referiu
D. Manuel Clemente, aos jornalistas, durante a visita
a esta unidade hospitalar. Apontando o ser humano como
“uma realidade prioritária em qualquer sociedade”,
o Cardeal-Patriarca lembrou que “a saúde
é uma realidade global, física, psíquica,
social”, o que “implica o concurso de todos
os agentes sociais, como aqui acontece entre a instituição
hospitalar e a Igreja”.
Estas declarações à comunicação
social aconteceram depois a receção e apresentação
de cumprimentos ao Cardeal-Patriarca de Lisboa pelo Conselho
de Administração do Centro Hospitalar de
Lisboa Central. Após este momento, seguiu-se a
visita de D. Manuel Clemente à Aula da Esfera do
Colégio de Santo Antão-o-Novo (atual salão
nobre do Hospital de São José) e também
a visita aos doentes de uma unidade de internamento –
a Unidade Vertebro-Medular. Nesta especialidade, o Cardeal
português encontrou-se com os médicos, inteirou-se
do estado de saúde de cada doente, deixando-lhes
uma palavra de esperança e conforto.
Uma figura discreta mas presente
No final da tarde, D. Manuel Clemente presidiu à
Eucaristia, na imponente capela do Hospital de São
José, que é a antiga sacristia da igreja
de Santo Inácio de Loyola do Colégio de
Santo Antão-o-Novo, tendo destacado, na introdução
da celebração, o papel de São José,
que dá nome a esta unidade hospitalar. “São
José é uma figura muito presente, muito
discreta, na vida de Jesus e também na vida da
Igreja. Nós nem damos por isso, tão discreto
ele o é, mas nestes dois mil anos de Cristo no
mundo a presença de São José tem
sido notada por quantos estão mais atentos àquilo
que realmente acontece a partir de Deus connosco. Em boa
hora este hospital recorda esta figura que, sendo discreta,
é presente e muito importante para que as coisas
aconteçam connosco no fim feliz que tiveram em
Jesus”, apontou, desde logo, nesta Missa onde participaram
funcionários, utentes e seus familiares, além
dos visitadores católicos da capelania.
Na homilia, o Cardeal-Patriarca voltou a refletir na
figura do pai terreno de Jesus, para fazer o paralelismo
com a missão de todos os que trabalham no mundo
da saúde, em concreto nesta unidade hospitalar
da cidade. “José foi incumbido pelo próprio
Deus de guardar a vida nova que nascia em Maria e a própria
Maria, mãe de Jesus. Esta missão de José
continua em todos quantos, e são muitos nesta casa,
também guardam dela para que a vida continue no
mundo, para que a vida de Jesus Cristo continue em todos
aqueles que aqui acorrem, para serem cuidados, para serem
tratados, como o próprio José tratou daquele
Menino, que depois se fez Homem, Jesus, e de sua mãe,
Nossa Senhora”. Na sua reflexão, D. Manuel
Clemente voltou a falar da pessoa como uma só realidade:
“Várias vezes, neste dois mil anos, na Igreja,
tem-se recorrido à intercessão e ação
de São José para que a aventura cristã
continue no mundo e Jesus Cristo chegue onde deve chegar
e, num estabelecimento hospitalar, chegue concretamente
àqueles que mais precisam de ajuda e salvação,
que em Cristo é sempre total, porque Cristo tanto
atende ao corpo como ao espírito: a pessoa é
uma realidade só”.
Para o Cardeal-Patriarca, a figura de São José
“assenta muito bem” a esta unidade de saúde.
“Ele tem a solicitude de médicos, de enfermeiros,
de todos os auxiliares de serviço, de funcionários,
de visitadores… todos são, de alguma maneira,
a figura de José que vai tomando conta da vida
de Jesus que está presente em cada pessoa doente
que assim continua a ganhar alento, coragem e saúde”,
terminou D. Manuel Clemente, que se encontrou, no final
da Missa, com os cerca de 30 voluntários da capelania
do Hospital de São José.
Acompanhar
O padre Carlos Manuel Matos, de 43 anos, é o capelão
do Hospital de São José desde 2008 e manifesta,
ao Jornal VOZ DA VERDADE, a presença que procura
ser junto de cada doente. “A vida na capelania gira
à volta do doente. De manhã, quando chego
ao hospital, é-me entregue uma lista dos doentes
que pediram assistência religiosa e, a partir desse
momento, essa pessoa passa a ser o centro da minha atenção,
não só em termos sacramentais mas também
de acompanhamento”, garante.
O primeiro contacto deste sacerdote da Sociedade do Verbo
Divino (Verbitas) com o mundo da saúde aconteceu
após a ordenação, em 2002, no Hospital
de Nossa Senhora da Oliveira, em Guimarães, agora
chamado Hospital do Alto Ave. Após esta primeira
experiência, o padre Carlos foi para Almodôvar,
no Alentejo, onde além de pároco de oito
paróquias de todo o concelho era também
capelão do hospital local. “Era uma unidade
muito pequena, com seis camas, três para homens
e outras três para mulheres. Mas como a relação
com as pessoas era muito boa, fazia assistência
religiosa tanto no hospital como em casa dos doentes”,
recorda.
Chegado ao Hospital de São José em setembro
de 2008, este sacerdote luso descendente, filho de emigrantes
em França, encontrou uma capelania “que há
muitos anos chegou a ter três capelães”.
“Como pertence a uma unidade hospitalar –
Centro Hospitalar de Lisboa Central –, o Hospital
de São José tem todas as valências
e abrange uma dimensão enorme de doentes. Sou capelão
do São José, mas colaboro com os meus colegas
sacerdotes em Santa Marta, nos Capuchos, no Dona Estefânia,
no Curry Cabral e na Maternidade Alfredo da Costa. Trabalhamos
em unidade e há uma relação muito
boa”, descreve. O Hospital São José
tem atualmente cerca de 500 camas e, “apesar das
dificuldades”, é “um hospital muito
bom”, garante o capelão, sublinhando “a
dimensão humana muito grande”. “Há
aqui uma escola. Este hospital é uma escola. Vemos
cá várias faixas etárias e há
uma relação muito boa entre os chamados
da ‘velha guarda’ e os mais novos”,
destaca.
A capelania do Hospital de São José tem
cerca de 30 voluntários, “praticamente todos
reformados”. “Apesar de terem mais de 70 anos,
são pessoas muito dinâmicas. Os nossos voluntários
têm uma missão muito específica: são
os visitadores. A função deles não
é distribuir bolachas, nem nada disso. É
visitar os doentes. É estar”, assegura o
padre Carlos Matos, frisando que “a capelania distribui
mensalmente cerca de duas mil comunhões”.
“É muito interessante verificar como há
muita gente que gosta de se confessar antes de comungar”.
O capelão destaca que “qualquer pessoa pode
pedir assistência religiosa, independentemente do
seu credo, através da família ou de algum
funcionário do hospital”. “Por lei,
o hospital tem de providenciar a assistência religiosa.
Eu não conseguia chegar a muitos doentes se quem
recebe a mensagem não tivesse a preocupação
de a fazer chegar à capelania. No São José,
entre médicos, enfermeiros, auxiliares, há
sempre a preocupação de comunicar ao capelão”,
observa este sacerdote.
Além das visitas aos doentes, o padre Carlos frisa
“a preocupação da capelania pela formação
dos cristãos que fazem a sua vida religiosa no
hospital, devido aos horários extensos”.
O capelão aponta ainda “a dimensão
social da capelania”. “Raramente fazemos peditórios,
exceto os consignados, mas através de quermesses
e outras iniciativas apoiamos quem mais precisa com bengalas,
cadeiras de rodas, etc., dentro de um apoio social em
coordenação com o serviço social
do hospital”, refere.
Após quase sete anos como capelão de um
dos hospitais de referência do país, o padre
Carlos salienta que a capelania não prevalece sobre
a paróquia. “Procuro que a capelania do Hospital
de São José não seja uma paróquia,
porque estamos a retirar as pessoas às paróquias,
à vida paroquial e até aos grupos paroquiais.
É na paróquia que os cristãos têm
de fazer a sua vida comunitária, porque a fé
católica é sobretudo uma fé comunitária.
A capelania é, quanto muito, uma ‘paróquia
de transição’, mas não substitui
a paróquia”, aponta.
Uma presença diária junto dos doentes
Silvina Cerqueira é uma das voluntárias
da capelania do Hospital de São José. Vai
diariamente a esta instituição hospitalar
apenas com uma missão: estar junto dos doentes
e levar-lhes a comunhão. “Comecei por ser
voluntária hospitalar no antigo Hospital do Desterro,
há mais de 20 anos, antes ainda de me reformar.
Estava ainda a trabalhar e o chefe deixava-me sair mais
cedo para ir visitar os doentes”, conta, ao Jornal
VOZ DA VERDADE, esta leiga da paróquia de São
João de Deus, recordando-se de como tudo começou:
“Fui ao hospital visitar um doente, meu familiar,
e vi que havia necessidade de ajudar os outros. Nestes
anos que levo como visitadora, acabei por convencer-me
de que a gente dá mas recebe muito mais”.
Silvina começou a ser voluntária no São
José por volta do ano 2006/07, com o encerramento
do Desterro. Hoje, é presença diária
nesta instituição pública de saúde.
“Todos os dias venho ao Hospital de São José
visitar os doentes. Dias fixos são as segundas,
quartas, sextas e Domingos, mas venho aqui ao hospital
praticamente todos os dias”. A dedicação
de Silvina permite manter aberta a capela do Hospital
de São José por mais horas diárias.
“Para a capela não fechar às 16h00,
com a saída da funcionária, o que é
uma pena, porque a partir dessa hora ainda vem muita gente
rezar, venho ao hospital todos os dias. Sinto-me com pena
de as pessoas chegarem à capela e verem a porta
fechada”, justifica. Esta missão de manter
a igreja aberta por mais horas começou após
uma experiência pessoal. “Há muitos
anos, tive o meu marido internado aqui, no São
José, porque foi operado, e eu vinha à capela
e encontrava-a fechada, sentindo na pele o que as pessoas
sentem quando veem a capela encerrada”.
Silvina Cerqueira é atualmente a coordenadora
da capelania do Hospital de São José, colaborando,
por isso, diretamente com o capelão. Quando soube
da visita do Cardeal-Patriarca de Lisboa, esta visitadora
sentiu “uma alegria imensa” com a presença
de D. Manuel Clemente. “Ficámos todos muito
contentes com a visita do senhor Cardeal”, garante,
referindo-se aos cerca de 30 colegas visitadores.
Aos cristãos que, por qualquer motivo, têm
de ir ao Hospital de São José, esta voluntária
deixa, através do Jornal VOZ DA VERDADE, um pedido:
“Ajudem o mais possível, quando podem, porque
todos nós podemos! Quando queremos, podemos! Costumamos
dizer que não temos tempo, mas depois Deus ‘dá-nos’
uma ‘doençazita’ e põe-nos um
mês de cama e então há tempo para
tudo. Enquanto se tem um pouco de saúde, não
temos tempo para nada; oiço isso a toda a gente,
mesmo na minha casa… Todo este tempo que dou aos
doentes, não me faz falta nenhuma. Pelo contrário,
até vou mais ‘rica’ para casa”.
texto e fotos por Diogo Paiva
Brandão
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