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O Papa Francisco considera “a falta
de trabalho uma ofensa para a dignidade humana”.
Na semana em que se associou ao luto dos familiares das
vítimas da tragédia nos Alpes, o Papa apelou
à proteção das “águas
do planeta”, condenou os negócios desonestos
e aceitou a renúncia do ex-arcebispo de Edimburgo,
acusado de assédio sexual.
1. “A falta de trabalho é uma ofensa para
a dignidade humana”, disse esta quarta-feira, dia
25 de março, o Papa Francisco, no final da audiência-geral
de quarta-feira, no Vaticano. Saudando a presença
na Praça de São Pedro de um grupo de trabalhadores
italianos ameaçados pelo desemprego, Francisco
defendeu ser urgente contrariar a lógica do lucro
e privilegiar a da solidariedade, porque não ter
trabalho é indigno e é injusto: “É
uma injustiça não ter trabalho. Quando não
se ganha o pão, perde-se a dignidade! E este é
o drama do nosso tempo, em especial para os jovens que,
sem trabalho, não têm perspetiva de futuro
e podem ser presas fáceis para organizações
malfeitoras. Por favor, lutemos pela justiça do
trabalho. Devemos lutar por isto”.
O Papa pediu também aos peregrinos que rezem pelo
Sínodo dos Bispos sobre a Família, que vai
decorrer em outubro, em Roma. “Peço-vos por
favor que não falhem com a vossa oração.
Todos, Papa, cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos
e leigos, todos somos chamados a rezar pelo Sínodo”,
afirmou Francisco, lembrando ainda que foi a 25 de março,
Dia da Anunciação, que há 20 anos
João Paulo II publicou a encíclica ‘Evangelium
Vitae’, sobre o valor e a inviolabilidade da vida
humana.
2. O Papa Francisco associou-se ao luto das famílias
das vítimas da queda do avião da Germanwings,
nos Alpes franceses, no passado dia 24 de março.
Francisco pede a todos os que foram afetados que procurem
em Deus a força necessária para ultrapassar
a tragédia. Numa mensagem divulgada pela Santa
Sé, o Papa associou-se também aos elementos
das equipas de resgate, que no terreno procuram recolher
os corpos das vítimas e os destroços do
avião.
Um avião da companhia aérea de baixo custo
Germanwings despenhou-se esta terça-feira de manhã
nos Alpes franceses, com 150 pessoas a bordo. Não
há sobreviventes. O Airbus fazia a ligação
entre as cidades de Barcelona, em Espanha, e de Duesseldorf,
na Alemanha. O aparelho despenhou-se numa zona de difícil
acesso, a cerca de 2 mil metros de altitude, perto da
localidade de Barcelonnette, na região de Digne-les-Bains.
As causas da queda do avião ainda não são
conhecidas. As equipas de resgate já encontraram
uma das caixas negras com os registos do voo.
3. O Papa lembrou, no passado Domingo, 22 de março,
que a água é um bem escasso, pelo que apelou
à comunidade internacional que proteja devidamente
o recurso. “Decorre hoje a Jornada Mundial da Água,
promovida pelas Nações Unidas. A água
é o elemento mais essencial para a vida e é
da nossa capacidade de o cuidar e partilhar que depende
o futuro da humanidade”, afirmou Francisco após
a oração do Angelus, na Praça de
São Pedro. “Encorajo a comunidade internacional
a vigiar as águas do planeta, para que sejam adequadamente
protegidas e que ninguém seja excluído ou
discriminado na utilização deste bem, que
é um bem comum por excelência”, pediu.
4. O Papa condenou os lucros fáceis e negócios
desonestos. "A corrupção cheira mal",
disse Francisco durante uma visita a Nápoles, no
passado sábado, dia 21 de março. Na homilia
da Missa a que presidiu em Nápoles, o Papa condenou
o cínico comércio da droga e outros crimes
e apelou à conversão dos criminosos e dos
seus cúmplices. Semelhante denúncia também
foi feita pelo Papa Francisco na primeira saudação
ao povo napolitano, num dos bairros mais problemáticos
desta cidade. “Se fechamos a porta aos imigrantes,
se tiramos o trabalho e a dignidade às pessoas,
como é que isto se chama? Chama-se corrupção!”,
declarou Francisco. “Todos nós temos a possibilidade
de ser corruptos, é uma tentação,
escorregar para os negócios fáceis, para
a delinquência, para a chantagem e exploração
das pessoas… Quanta corrupção há
no mundo! A corrupção cheira mal e a sociedade
corrupta cheira mal. E um cristão que deixa entrar
dentro de si a corrupção, não é
cristão! Cheira mal!”, lamentou. Aos napolitanos,
o Papa deixou palavras de esperança para que não
cedam “à tentação dos ganhos
fáceis ou dos rendimentos desonestos” e possam
reagir “com firmeza às organizações
que exploram e corrompem os jovens, os pobres e os fracos,
com o cínico comércio da droga e outros
crimes”.
“Aos criminosos e a todos os seus cúmplices,
a Igreja repete: convertei-vos ao amor e à justiça,
deixai-vos encontrar pela misericórdia de Deus!
Com a graça de Deus, que tudo perdoa, é
possível voltar a uma vida honesta”, garantiu
Francisco, na Eucaristia a que presidiu em Nápoles.
"É o que também vos pedem as lágrimas
das mães de Nápoles. Que estas lágrimas
dissolvam a dureza dos corações e reconduzam
todos ao caminho do bem."
5. O Papa Francisco aceitou, no passado dia 20, a renúncia
do arcebispo emérito de Edimburgo ao cardinalato,
Keith O'Brien, que deixa de ser cardeal. O pedido foi
aceite pelo Papa, conforme o que está previsto
no direito canónico. O antigo arcebispo de Edimburgo
foi acusado de comportamento impróprio por três
padres. Keith O'Brien, que estava há algum tempo
afastado da vida pública, admitiu em março
de 2013 ter cometido atos impróprios, após
ter sido acusado de assédio sexual. Na altura,
o cardeal reconheceu ter tido um comportamento inapropriado
e pediu perdão às pessoas que ofendeu. O
escândalo estalou em plena preparação
do Conclave que viria a eleger o Papa Francisco. Nesses
dias, em plena polémica, o cardeal O'Brien já
não participou nas congregações gerais
do Colégio Cardinalício, nem apareceu no
Conclave. Logo no início do pontificado de Francisco,
o cardeal escocês foi suspenso das suas funções
de arcebispo de Edimburgo. Durante este tempo, manteve-se
afastado e o Papa ordenou um inquérito aprofundado,
cujo desfecho se completa agora. O'Brien publicou nesse
dia uma carta em que renova "pedidos de desculpa
à Igreja Católica e ao povo da Escócia,
pelo seu comportamento sexual impróprio" e
do qual se "arrepende profundamente". O antigo
cardeal agradece ao Papa Francisco "a sua atenção
paternal" por ele e pelas vítimas que ele
ofendeu, e declara que vai passar o resto da sua vida
“retirado em oração".
Aura Miguel, à conversa
com Diogo Paiva Brandão
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