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Compreendo que, neste tempo de heróis
e vilões, de personagens que ou são sempre
boas ou caem na desgraça (e são totalmente
ruins), se queira apresentar Jesus Cristo com a figura
do herói, daquele que queremos seguir, daquele
que representar o nosso ideal de vida.
Mas este modo simplista de falar de Jesus não
deixa de ter os seus perigos.
Em primeiro lugar, coloca-O ao mesmo nível do
Super-Homem, do Homem Aranha (figuras inexistentes, ao
contrário de Jesus), ou de um jogador de futebol
ou de um qualquer cantor que leva atrás de si multidões,
mais ou menos hipnotizadas (creio que, infelizmente, já
não existe nenhum político que se possa
candidatar à comparação), “endeusados”
pelos seus fãs. Jesus seria melhor que todos eles.
Mas, mesmo assim, comparável. E nós, cristãos,
sabemos que não existe comparação
possível.
Depois, estes heróis são sempre os que
vencem na vida à custa dos demais. Ultrapassaram
os outros; derrotaram-nos e adquiriram um estatuto de
“imortais” (até que dure a memória
dos homens, que é fraca e passageira) porque os
outros foram menos.
Jesus é bem diferente. Não adquiriu a sua
glória à custa de ninguém. Não
precisou de ser mais que todos os outros. Bastou-Lhe ser
ele próprio. E, sobretudo, elevou todo o género
humano à Sua dignidade (muito mais que alguém
pudesse, alguma vez, pensar). E àqueles que aceitam
viver com Ele (e todos são convidados a fazê-lo)
propõe-lhes uma vida no serviço de Deus
e do próximo.
Mas, sobretudo, porque em Jesus tudo começou e
tudo está centrado na cruz. Longe de ter terminado
na morte, foi para aí que toda a Sua vida caminhou,
livre mas irresistivelmente. E, longe de ser destino fatal,
a cruz foi antes momento em que se manifestou o amor divino
por cada ser humano, de tal forma que daí tudo
começou numa “explosão” de vida
divina que no Pentecostes envolve os discípulos
e abraça toda a história humana. Jesus não
é alguém a ser simplesmente imitado; Jesus
quer ser “vivido”, hoje, presente em cada
cristão.
E não tenhamos dúvidas: hoje como há
2 mil anos, tudo vai ter à cruz, para daí
tudo poder receber a vida que só Deus pode dar.
D. Nuno Brás
Bispo Auxiliar de Lisboa
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