Paróquia de Santo António dos Cavaleiros
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MENSAGEM DO PATRIARCA DE LISBOA AO CONSELHO PRESBITERAL

O Conselho Presbiteral, segundo o Código de Direito Canónico, é uma espécie de senado do Bispo que representa o presbitério. Compete ajudar o Bispo no governo da diocese nos termos do direito, para se promover o mais possível o bem pastoral do povo de Deus que lhe foi confiado.

De 2013 para 2014, a sociedade em que nos inserimos continua a sofrer de alguns condicionalismos graves, que pesam muito sobre a generalidade das pessoas e das famílias. Por razões sobretudo financeiras, económicas e laborais, reduziram-se muitas possibilidades imediatas, em especial no trabalho, no rendimento e nas reformas, e esfumaram-se muitas aspirações de futuro, particularmente para jovens e desempregados de meia idade.

Naturalmente decorrem daqui muitos dos problemas que nos chegam, ou de que nós próprios devemos abeirar-nos. Nas instituições sociais que mantemos e no atendimento pessoal que prestamos, aparecem casos difíceis e por vezes dramáticos que têm diretamente a ver com a presente situação geral do país e as muitas frustrações que ocasiona.

Porque não se trata apenas de nós, o Papa Bento XVI (Caritas in Veritate) e o Papa Francisco (Evangelii Gaudium) caraterizaram a presente “crise” em vários aspetos que importa reter: duma economia «que mata», por ter pouco ou nada em conta a primazia da pessoa humana, a um incorreto entendimento do progresso e do desenvolvimento, que os retém na mera acumulação quantitativa e alarga o fosso entre quem tem muito e quem não tem o suficiente, ou mesmo nada; dos grandes atentados à existência humana, da conceção à morte natural, ao alastramento duma deficiente antropologia, que não respeita a totalidade psicofísica do ser humano, na complementaridade homem – mulher e no envolvimento familiar básico e estrutural; do esvaziamento cultural, que dissolve valores globais e se fica por impressões e afetos, à dificuldade em manter verdadeiros diálogos, em que se escutem e partilhem realmente convicções e projetos; da grande massa de informação mediática, que mais atordoa do que comunica, à imponderação dos juízos e das decisões que se tomam à pressa e à escassa aprendizagem da escuta, da leitura e da contemplação…

Tudo isto nos “bate à porta” na ação pastoral diária e nos desafia fortemente enquanto Igreja. Apesar das circunstâncias específicas da “crise” atual, não é a primeira vez que os cristãos e as suas comunidades são interpelados em ser para o mundo o sinal vivo de um Deus que não desiste de sustentar a criação e de a recriar em Cristo, com a força do Espírito. Mesmo a interpelação que tantos nos fazem, crentes e não crentes, para agirmos, para falarmos, para reavivarmos a esperança, torna-se para nós um verdadeiro “sinal dos tempos”, que só nos pode comprometer, mais e mais, nesse sentido.

(...) É a nossa missão, ilustrando com experiências de agora o que os Atos dos Apóstolos nos contaram para sempre. Com tudo o que lá vem descrito, de essencial e garantido: o anúncio geral da paternidade divina e da pessoa de Cristo, em cuja Páscoa se realizam as aspirações de todo o povo e nação; a obra do Espírito, criador de comunidades que se expandem em missão; a colaboração dos ministros ordenados (Paulo e os seus companheiros) e dos fiéis leigos (o casal Àquila e Priscila e tantos outros); sobretudo a certeza de que a evangelização do mundo é essencialmente obra divina, que só com Deus e a partir de Deus se leva por diante, de modo criativo e eficaz.

(...) Lembrando, a propósito, que a renovação ou “reforma” da Igreja significa retomar a “forma” que o Espírito de Cristo essencialmente lhe deu, como novidade para o tempo todo. Isso mesmo que a Conferência Episcopal Portuguesa propôs na nota pastoral de abril de 2013 e eu procurei resumir na homilia de 7 de julho passado, em termos de «comunidades de acolhimento e missão». Sobretudo, o que o Papa Francisco nos indica na exortação apostólica Evangelii Gaudium, que temos como programa para os próximos tempos, e é a substância teórica e prática do caminho sinodal que começamos.

Levemos no espírito e na letra, paróquia a paróquia, instituto a instituto, associação a associação, trechos como os seguintes da exortação papal: «Sublinho que aquilo que pretendo deixar expresso aqui, possui um significado programático e tem consequências importantes. Espero que todas as comunidades se esforcem por usar os meios necessários para avançar no caminho de uma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão. Neste momento, não nos serve uma “simples administração”. Constituamo-nos em “estado permanente de missão”, em todas as regiões da terra» (Evangelii Gaudium, 25). E, mais concretamente, no que ao “funcionamento” pastoral diz respeito: «Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação. A reforma das estruturas, que a conversão pastoral exige, só se pode entender neste sentido, fazer com todas elas se tornem missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de «saída» e, assim, favoreça a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade. Como dizia João Paulo II aos bispos da Oceânia, “toda a renovação na Igreja há de ter como alvo a missão, para não cair vítima duma espécie de introversão eclesial”» (EG, 27).


+ Manuel Clemente
Patriarca de Lisboa


 
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