"A recente crise económico financeira veio
evidenciar uma profunda crise de valores, que obriga a
colocar o problema do modelo de desenvolvimento da sociedade
portuguesa.
A desregulação permitiu a irresponsabilidade
financeira, que conduziu a uma recessão económica.
Esta provocou uma onda de falências e de desemprego,
bem como uma diminuição da qualidade e do
nível de vida de uma significativa parte da população.
O que este processo dramático evidenciou é
que a procura desenfreada do lucro, não entendido
como um meio para o bem comum, como recorda o Papa na
Encíclica "Caritas in Veritate" (Caridade
na Verdade), publicada em 2009 (n.º 21), mas como
objectivo único ou primordial de toda a actividade
económico-financeira, gera em cadeia problemas
graves de repercussões incalculáveis.
A crise financeira mundial e as suas repercussões
entre nós são de uma gravidade sem precedentes,
uma vez que atingem os fundamentos da própria sociedade.
O culto do efémero e do imediato, a exaltação
do egoísmo, a prevalência das aparências,
a desvalorização da criação
e da partilha de responsabilidades - tudo isso conduziu
à ganância, ao esgotamento dos recursos disponíveis
e à afectação dos meios que deveriam
caber às gerações futuras. Estas
gerações correm o risco de viver em piores
condições, caso não sejam desde já
tomadas as medidas adequadas.
Também a situação social portuguesa
é agora de extrema gravidade, tendo-se verificado
grande aumento do desemprego e do endividamento das famílias
e das empresas, devendo ainda ser assinaladas as crescentes
desigualdades sociais. A pobreza, que já existia
anteriormente à crise, alargou-se muito significativamente.
Perante esta situação, reconhecendo a necessidade
de medidas com vista à viabilidade económica
e financeira de Portugal, apelamos vivamente para que
os sacrifícios sejam distribuídos com justiça
e equidade, de acordo com os rendimentos das pessoas e
das famílias e poupando o mais possível
os mais pobres.
Apelamos aos cristãos e às pessoas de boa
vontade para o desenvolvimento de todas as formas de solidariedade
que possam dar resposta ao aumento de carências
económicas e sociais que se verificam."
Gabinete de Estudos Pastorais
da Conferência Episcopal Portuguesa
A nossa comunidade tem respondido a esta realidade transcrita
neste texto com muitos e diversos gestos e acções
de generosidade, partilha e solidariedade. Os números
que agora publicamos destes últimos meses e que
incluem a quadra natalícia são disso um
exemplo. Nestes números não estão
contabilizados os géneros alimentares e outros
produtos e bens oferecidos e tantas e tantas horas de
trabalho e serviço voluntário de tantas
pessoas. Tudo isto para ajudar aquelas pessoas e famílias
que neste momento das suas vidas necessitam da nossa ajuda.
Que este espírito de partilha se mantenha, pois
todos os dias muitas pessoas continuam a bater à
nossa porta…
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