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Quando um cristão sobe como peregrino
a um santuário deseja voltar de lá mais
identificado com o mistério representado simbolicamente
por esse lugar sagrado, onde a cruz, que lá nunca
falta, está a apontar para a vida sem fim. Nos
eventuais videntes que lá tiveram uma visão
fundadora, Deus aparece e fala a cada peregrino, se o
souber ver e ouvir. Até o sacrifício, que
alguns fazem nesse peregrinar, se entende como algo que
gratuitamente querem dar de si para chegar ao fim que
se propõem e quase para consagrar a vida inteira
a Deus.
O símbolo da peregrinação
subentende outra intenção: a de não
dar importância ao supérfluo e de concentrar-se
no essencial. Quem faz o exercício de peregrinação
entende que a vida é breve e não há
tempo para fazer tudo, muito menos o mal, mas só
o bom e o melhor. Nem há autêntica peregrinação
se o peregrinar físico não realiza uma peregrinação
ao interior do meu ser e da minha vida, para perceber
que sentido e que orientação lhe devo dar.
Uma peregrinação é um retiro espiritual,
um subir ao monte de Deus, como Moisés, Elias e
Jesus, para aí contemplar a glória de Deus.
Quando se vê assim que a peregrinação
tem sentido e dá sentido à vida, também
fazem sentidas as razões tradicionais da peregrinação:
subir ao monte para rezar, como diz de Jesus o episódio
da sua transfiguração (Lc 9,28-36), pedir
perdão e adquirir a indulgência dos pecados
e a bondade de Deus, haurir do tesouro da graça
divina, que é tesouro espiritual da Igreja de Jesus
Cristo, cuja essência reside no princípio
da ‘comunhão dos santos’; é
na abundância deste tesouro espiritual que a Igreja
se apoia para conceder a indulgência do pecado,
distribuindo aos fiéis as riquezas nele contidas,
tendo em vista a remissão das culpas (não
se trata de pagar dívidas nem de comprar o perdão,
mas antes de receber de graça a salvação
já adquirida de graça). Esta atitude de
rezar e pedir perdão a Deus visa a conversão
e mudança de vida em direcção à
perfeição.
Nós, portugueses, temos como padroeira
aquela que é modelo perfeito de peregrina, Maria
de Nazaré que foi a Belém dar à luz
e dar ao mundo o Filho de Deus. Maria, para além
de ter peregrinado fisicamente até à montanha
e caminhado com Jesus no seu interior para levar a promessa
da Vida ao seu semelhante, à parenta Isabel (Lc
1,39-56), foi peregrina na fé, na medida em que
foi aprofundando o mistério de Jesus ao longo da
sua vida. Maria é estrela e guia segura para cada
peregrino caminhar em grupo em direcção
a seu Filho.
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